quinta-feira, setembro 01, 2005

Falando de pessoas...



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A política não justifica tudo. Há momentos em que a transposição de determinados limites da decência deveria constituir matéria de dolo.

Mário Soares deveria obrigar-se algum recato quando fala de "políticas de pessoas" e de falar delas como génese da política humanista que preconiza para o seu mandato – sobretudo porque foi contra as pessoas, umas centenas de milhares de portugueses e alguns milhões de africanos, que ele desenvolveu, como principal mentor, um processo negligente, obsceno e indigno de "descolonização exemplar". Não se trata da descolonização em si, justa e desejada pela maioria dessas pessoas, mas pela forma sectária, cega, parcial, irresponsável e indigna como foi feita.

Cullinan, Grobblersdal, Cuito, porto de Moçâmedes, aeroportos de Luanda e de Mavalane, Catambor, Vila Alice, Prenda, Montepuez, Malhangalene e outros são vocábulos com um significado que exigem um conhecimento de África muito para além de um exílio em S. Tomé e meia dúzia de incursões do filho João à Jamba.

Não é verdade que a descolonização tenha sido a "descolonização possível". É mentira, é mentira, é mentira. Mil vezes mentira. Os portugueses e os africanos deveriam ter merecido mais respeito e dignidade por parte de Mário Soares se tivesse, aí sim, aplicado as "políticas de pessoas" que ontem fez evoluir num salão do Altis.

Sinto uma tristeza imensa pelo meu país que entronizou um homem a quem chama pai da democracia. A democracia portuguesa tem pais mais dignos desse nome, porventura desconhecidos.

Sobre a importância deste homem na nossa história recente, recomendo vivamente a leitura estes artigos de
Pacheco Pereira aqui e da Joana aqui. Entre vários que abundam aí pela Blogos.

6 Comments:

At 11:46 da manhã, Anonymous Anónimo disse...

Concordo, em pleno, com o que ficou escrito.
Lamento que a memória dos Portugueses não seja de elefante, não só nesta fase histórica como em algumas que se lhe seguiram.
Com tanto historiador que por aí vai havendo é de estranhar que ainda nenhum se tenha interessado, a fundo, pelo tema "descolonização".

 
At 10:10 da manhã, Blogger Nelson Reprezas disse...

Jazevedo

Tudo se dilui... Menos Mário Soares, claro
:)

 
At 7:18 da tarde, Blogger Teófilo M. disse...

Interessante seria saber porque é que JPP apoiou o jacobino Soares noutras ocasiões;

Interessante recordar o que se gritava no tempo da descolonização, nas ruas do País, lembram-se, eu recordo:

- Nem mais um soldado para o Ultramar!
- Nem mais um soldado para as colónias!

E lembrar quem lançava esses gritos recordando que era o mesmo Pacheco Pereira e o seu maoísta companheiro de partido Durão Barroso, e outros mais que por aí engordam verberando as atitudes de então.

E recordando, quem é que dominava os quartéis nesse tempo, em que os militares se negavam a obedecer a ordens, deixavam crescer barba e cabelo, e fralde de fora gritando Soldados Unidos Vencerão e fazendo juramentos de bandeira revolucionários!

Tentar culpar Soares, esquecendo o País de então, a esquerda revolucionária que desestabilizava com as campanhas de alfabetização, ou o bem organizado PC apostado em puxar as ex-colónias para a área de influência comunista, deve andar ou muito distraódo, ou então a necessitar de umas horas a ler os jornais da época.

 
At 8:10 da manhã, Blogger Nelson Reprezas disse...

teófilo m.

Não concordo com a ideia de que Soares se sentiu manietado pela extrema esquerda. Sou mais daqueles que acreditam que ele próprio alimentou uma matriz revolucionária (de que depois se terá arrependiodo) e que conduziu ao desastre.
P.S. Posso garantir-lhe que li muitos jornais da época...

 
At 2:25 da tarde, Blogger Teófilo M. disse...

Caro espumante,

o Soares claro que alimentou uma matriz revolucionária, pois era oposição ao regimes saídos do Salazer e Caetano.

Mas revolução, não quer dizer bandalheira, patetice, marxismo-leninismo, maoismo, socialismos utópicos ou outros arremedos que tais.

Soares, foi o que teve a boa ideia de meter o socialismo na gaveta, pois sempre foi um moderado excepto nas horas em que a liberdade individual e/ou colectiva é ameaçada.

Eu, felizmente, passei pela experiência do Salazar, do Caetano e dos períodos mais esqwuerdizantes da nossa recente vida política e por isso sou dos que estão agradecidos a Soares, por ter tido a coragem de saltar para a frente do touro que julgava que já tinha saltado a trincheira.

Tirando-o a ele, não vi muito mais gente a saltar para o terreno para fazer frente à ditadura de esquerda que aí se vinha instalar.

Agora, que ele vai avançando na idade, e que os mais novos não sabem, fácil é contar histórias de bichos-papões, gigantes, dragões e outros que tais, que estavam muito escondidinhos nos vãos de escada, no longínquo Brasil, aprovavam constituições com rumo ao socialismo e outras coisas mais.

Cumprimentos

Teófilo M.

P.S.: Lei mais, leia tudo e fale com gente que tem a coragem de dizer que se acagaçou na época, ou que então eram da esquerda caviar mais radical que já vi.

 
At 8:13 da manhã, Blogger Nelson Reprezas disse...

teófilo m.

Nós temos uma opinião MUITO, mas muito diversa sobre a criatura. Tal como da dinãmica do processo à altura.

 

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