Oliveira da Figueira
Nunca nos meus limitados conhecimentos encontrei alguem que estereotipasse tão fielmente o português como Hergé, nos seus fascinantes álbuns de BD. Descontemos Eça e outros génios lusos porque esses são da casa e levam, portanto, vantagem. Mas Hergé era Belga e nunca terá posto o pé em Portugal. Como aliás em África, países do Leste Europeu, Estados Unidos,Perú e outros países da América Latina. No seu atelier de trabalho, Hergé “construía” a personagem socorrendo-se apenas dos relatórios de alguns colaboradores que viajavam e lhe traziam o “feed-back”.
Oliveira da Figueira era o português feito por Hergé. Gorducho, chico esperto, “alma até Almeida”, bigode, desenrascado, vigarista, comerciante de levar e trazer e conhecedor de meio mundo. Só não usava óculos espelhados porque, na altura, ainda os não havia. Nem era “emplastro” porque a TV também era coisa remota e não estava ao alcance dos Oliveiras das Figueiras do nosso descontentamento. Mas se houvesse, tenho a certeza que lá estaria ele, em Figueira, como lídimo Oliveira. A dar opinião sobre o que fazer sobre os energúmenos que mataram uma criança e ainda não disseram onde o corpo se encontra. Ele próprio, o Oliveira, já teria dito que “conhece um advogado que lhe disse que sem corpo não há crime” e não havendo crime o melhor era dar uma carga de porrada nos gajos, que eles haviam de cuspir o local do corpo. Ó se haviam. Havia de ser com ele!...
A situação de Figueira, no Algarve, é tão mais deprimente quanto verificamos como os Oliveiras continuam a ser uma inspirada estereotipização de um desenhador que nem Portugal conhecia. São mais modernos, agora, usam os tais óculos espelhados, deslocam-se de carro de centenas de quilómetros, desapertam a camisa mostrando os pêlos do peito bem eriçados, arrastam a mulher e as crianças e alimentam a esperança de dar uma porrada nos suspeitos. Havia de ser com eles...
É triste verificar que a Figueira é a mesma e, ao contrário do dichote, nem os Oliveiras mudam. E, agora, com uma série de “Oliveirinhas”, saídos da faculdade a entrevistarem “azeitonas” (criminoso...) que um dia serão Oliveiras como eles.
1 Comments:
Olá Nelson
Parece que interpretámos de maneira similar este personagem tão patusco e, tamb+em como tu, aproveitei o seu carácter para me estender por outras observações, também elas actuais. Um abraço para ti
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