O Barnabé
Iniciado nos blogues apenas há cerca de três meses, leio regularmente o Barnabé. Considero-o um caso exemplar de sucesso, à escala dos blogues, está bem de ver, enformando uma das mais eficazes estratégias de crescimento e impacto a que é possível deitar mão hoje em dia.. O que é simples aliás. Pegando na esquerda e mobilizando as claques idiotas e atiçando a direita igualmente idiota. Esta receita, de tão simples que é, chega a ser confrangedora pela forma como funciona. Mobilizadora, chocante, dinamizando emoções e estabelecendo sinergias que contribuem decisivamente para o sucesso do blogue e para o gáudio dos seus mentores que são tudo menos inocentes na estratégia que delinearam. Ainda hoje li um post onde se misturava a presença da GNR no Iraque com aceleradores de partículas...vários coelhos de uma cajadada. “Chapeau” a um tal Rui Tavares. Os comentários sucederam-se. Misturando-se os aplausos das tais claques com os apupos da direita ressabiada. Melhor que isto, só Pinto da Costa.
Poder-se-á perguntar. Mas que tenho eu a ver com isto? Não é a blogoesfera um espaço livre de opinião, uma arena saudável onde se dirimem ideias, tendências e anseios? É evidente que sim. E não é por aí que vem mal ao mundo, muito até pelo contrário. O que acho verdadeiramente triste, ia a dizer obsceno, é que o Barnabé é um retrato fidelíssimo da vivência e do estilo da nossa sociedade actual onde o importante, mais que debater, é barafustar. E se está datada a cena do sapato de Kruchev, mantém-se bem actual a arrogância, a vaidade pessoal e, frequentemente, a transposição de questões mal resolvidas para a arena do debate. Ainda hoje vi vários professores, educadores de infância (de infância, deuses...) a protestar pelos resultados da colocação dos professores da forma mais incivilizada, caceteira e com formas de expressão mais próprias de 4ª classe da tropa do que de responsáveis pela educação e formação de crianças e de adolescentes. Um constrangimento total, independentemente da bondade dos protestos, que parece existir mesmo. A diferença do Barnabé é que é feito por gente inteligente, longe de ser trauliteira, com as ideias ordenadas, culta, leitora e atenta. Mas isso não altera a opinião que tenho de que eles próprios, os que o escrevem, acreditem ma bondade de metade do que dizem. A coisa funciona e a corte de apaniguados cresce. Tudo numa óptica de esquerda, que é o que está a dar. Aqui neste país, onde continuamos num processo histórico cerca de 25 anos atrasados em relação à maioria dos países europeus. Já era assim na ditadura, foi assim no 25 de Abril e continua a ser assim hoje. Numa época em que as preocupações dos cidadãos reflectem um estádio de desenvolvimento e pensamento bem mais avançado, incluindo questões internacionais e, sobretudo, preocupações sociais, nós por cá continuamos a falar dos amanhãs que cantam, com os necessários ajustes à actualidade. É fácil, é bem consumido pelo povo atrasado que somos, bem sublimado pela... como é que se diz... esquerda intelectual e rende lugares de primeira fila de plateia em pequenas feiras das vaidades (até nas feiras somos pequenos) que nos afagam o ego.
A desfaçatez com que se fala em aceleradores de partículas ao mesmo tempo que se faz juízos de valor sobre as eleições americanas revela e ilustra com propriedade o tipo pimpão, pretensioso, desenrascado, desonesto e, frequentemente, ignorante que somos todos nós. Uns mais que outros, claro. E uns mais inteligente que outros. Nada disto seria muito grave se não contribuísse decisivamente para que tudo continue na mesma, diria até que pior, e nos mantivesse num atavismo que, a curto trecho, a muito curto mesmo, nos trará dificuldades quiçá inultrapassáveis para que continuemos inseridos, de pleno direito e dever, na sociedade europeia a que pertencemos. E se e quando isso acontecer e se eu ainda cá andar, vou pedir aos “Barnabés” que descalcem a bota. Longa vida ao Barnabé...
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