O fado dos martrindindes
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Acabei de entrar num café em Benguela, com um colega. Entrámos
num recinto limpinho e bem ataviado com garrafas de Bols, Licor Beirão e outros
licores portugueses, bem assim como várias garrafas de uísque. Nas prateleiras,
uma tabuleta dizendo: «Bebidas expostas só para consumo da casa». Na orla da
sala espraiavam-se meia dúzia de mesas redondas servida por umas cadeiras
maneirinhas de tampos obviamente desproporcionadas para as «bundas» em uso
corrente pelas moças bonitas, «jinguçadas» e «natural born adiantadas». Ao
meio, umas quantas mesinhas redondas, sem bancos, do tipo em que nos quedamos
de pé, tomando um café, de resto o que fizemos, sendo que me obriguei a tomar
um café Delta que os portugueses insistem em considerar um bom café. Um familiar
balcão de vidro expunha… veja-se… pastéis de feijão, pastéis de nata, bolas de
Berlim, palmiers e outros notáveis da fidalguia pasteleira portuguesa, em tudo
semelhantes aos que vemos em Lisboa, descontados o ENORME tamanho das bolas de
Berlim e alguma palidez dos pastéis de nata. Em cima, alguns letreiros avisando
que se servia «pizzas», café e bolos, sandes (escrito assim mesmo), refrigerantes
e cerveja. Nas prateleiras abaixo dos olhos, alinhavavam-se garbosas
garrafinhas de Compal, Sumol, água do Caramulo, cerveja Sagres, néctar,
garrafinhas de água do luso e Caramulo.
Olhei através da vidraça e um olhar atento confirmou-me que
estava numa rua duma cidade africana, a avaliar pelo caos do trânsito, motos,
motinhas e motoretas, carrocinhas vendendo banana, mamão, banana-macaco, batata-doce
e ginguba, tudo no meio de reluzentes jipões de alto luxo e numa moldura de
pujantes acácias que lá para Novembro se vão vestir do fogo das suas enormes flores.
Regressei ao cenário «tuga» do café. E pensei que podemos
ter sido muito maus em muitas coisas. Mas que de uma deficiente transmissão de
hábitos a povos culturalmente tão diversos de nós como os africanos nunca
sejamos acusados. Africanos simpáticos e sorridentes, jingões, falando português
e comendo pasteís de nata e de feijão, bebendo café delta… só nós mesmos, tugas
ajuramentados que devemos ter um não-sei-quê que, apesar de tudo, nos torna
apelativos.
.
2 Comments:
Resumindo: sentes-te em casa!
Que sorte a passear e ainda por cima bem longe dos comentários do teu "amigo" Soares :)))
Boas férias.
papoila
Trabalhar, minha amiga, trabalhar... :)))
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