O fetiche dos 20 cm
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Há qualquer coisa de mágico com o número vinte. Ele é o 20
valores, ele é os 20 centímetros. Por qualquer razão o vinte lusitano tem
valor acrescentado e funciona de cada vez que sentimos aumentar a auto-estima.
Na circunstância, vinte pode ser igualmente um valor de referência de cada vez
que o português quer (ou sente) aumentar qualquer coisa. E não há nada de machismo na
coisa quando digo o português, porque para a portuguesa não há verdadeiramente
nada que suscite o anseio de ter alguma coisa com vinte centímetros, ainda que,
aplicados ao homem, isso lhe antecipe uma provável e irreprimível volúpia.
Pois desta vez foi Marcelo. Para além de se entusiasmar a falar
de PIB e crescimentos económicos em conversas informais com deputados croatas, mesmo que mais
tarde tenha corrigido o tiro e tenha dito que o que disse era apenas uma hipótese,
Marcelo transbordou de entusiasmo com a vitória na Eurovisão. Depois de
explicar a um grupo de jovens que no dia do festival os portugueses “telefonaram
todos uns aos outros” (ipsis verbis) para saber se estávamos todos a ver a
votação e de que o António Costa lhe mandou um sms a perguntar o mesmo, acabou
por disparar com os tais vinte centímetros. Porque foi o dia em que os
portugueses se sentiram com mais vinte centímetros. E desta vez, em altura. Lá
está… os vinte centímetros a funcionarem na alma portuguesa. E não deixa de ser
curioso verificar o efeito de detalhe que pode acontecer por sermos vinte
centímetros mais altos. É… já Florbela Espanca dizia que os poetas eram mais
altos.
No meio disto tudo, com vinte centímetros a mais ou vinte centímetros
a menos, a questão é que cada vez mais me sinto entregue a um grupo de gente
que dá a ideia clara de que estamos no recreio, tal qual quando estávamos na
escola. Andamos, felizes, contentes, entusiasmados, eufóricos e até mais altos. O que me preocupa não é propriamente que venha o diabo, mas
que toque a sineta a anunciar o fim do recreio e tenhamos de voltar para a
sensaboria da aula. E aposto, singelo contra dobrado, que nessa altura encolhemos
bem mais que os vinte centímetros apregoados por Marcelo. Na altura e, eventualmente,
noutros detalhes da nossa morfologia.
E, já agora, alguém que diga alguma coisa
a Marcelo. A Judite de Sousa, o Júlio Magalhães ou assim…
Etiquetas: Ai Portugal, Escolhas de Marcelo, vinte centímetros
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