A carta
Ainda há dias falei em qualquer coisa que me levou a
apelidar o Público de jornal indecoroso. Hoje tenho de reciclar a opinião e
acrescentar que além de indecoroso me parece fundamentalmente estúpido. Porque depois
de ver o título (ribombante) da capa da edição de hoje e depois ler a carta, percebemos
que:
- Em 2011 o País não tinha dinheiro nem para salários e
pensões (já se sabia, mas as pessoas andam distraídas);
- Ao contrário das raivas incontidas do PS (como,
recentemente, aconteceu quando Costa prometia que se a TAP fosse privatizada
ele depois desfazia o acordo), o PSD revela um elevado sentido de Estado,
civismo e razoabilidade ao oferecer todo o suporte e colaboração se o pedido de
ajuda externa fosse a decisão do Governo.
Mas o Público é assim. Tem tantas raivinhas como o próprio
PS. Tantas que lhe toldam o discernimento. Acabou de prestar um notável serviço à Coligação. Ler a carta, abaixo.
Confidencial
Gabinete do presidente
Senhor primeiro ministro
Recebi hoje informação, da parte
do senhor Governador do Banco de Portugal, de que o nosso sistema financeiro
não se encontra, por si só, em condições de garantir o apoio necessário para
que o Estado português assegure as suas responsabilidades externas em matéria
de pagamentos durante os meses mais imediatos. Ainda esta manhã o senhor
Presidente da Associação Portuguesa de Bancos transmitiu-me idêntica
informação.
Estes factos não podem deixar de
motivar a minha profunda preocupação.
Não desconheço que o Governo tem
repetidamente afirmado que Portugal não necessitará de recorrer a qualquer
mecanismo de ajuda externa e é certo que a competência pela gestão das
responsabilidades financeiras do país cabe por inteiro ao Governo.
Não
disponho de informação sobre as acções e diligências que o Executivo estará a
desenvolver para assegurar o cumprimento dessas obrigações. Porém, é do
conhecimento público a situação do mercado que a República vem defrontando,
desde há vários meses a esta parte, bem como o facto de o sistema bancário se
encontrar sem acesso ao mercado desde há mais de um ano.
Atenta
a especial sensibilidade desta matéria e as gravíssimas consequências que
decorriam para o nosso país de qualquer eventual risco de incumprimento, é
essencial que o Governo garanta, com toda a segurança e atempadamente, adopção
das medidas indispensáveis para evitar tal risco.
Nestas circunstâncias, entendo
ser meu dever levar ao seu conhecimento que, se essa vier a ser
a decisão do Governo, o
Partido Social Democrata não deixará de apoiar o recurso aos mecanismos
financeiros externos, nomeadamente em matéria de facilidade de crédito para
apoio à balança de pagamentos.
Considerando a extrema relevância
desta matéria, informo ainda que darei conhecimento desta carta confidencial ao
senhor Presidente da República.
Com os cumprimentos,
[assinatura]
Pedro Passos Coelho
Lisboa, 31 de Março de 2011
Sublinhados meus
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Etiquetas: comunicação social, Público
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