Afastar Sócrates pelo voto
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Desiludam-se todos quantos vêem no caos económico e financeiro em que nos encontramos o principal problema que enfrentamos. Mantenhamo-nos, antes, focados em Sócrates como o culpado maior do atoleiro em que nos atascámos. Na falta de dinheiro, no endividamento externo (duplicado em meia dúzia de anos), no desemprego, na incredibilidade que é a nossa actual imagem de marca e na ausência de um «master plan» de desenvolvimento que nos permitisse vislumbrar a puída figura de retórica que é a luz ao fundo do túnel. Na insegurança crescente, num sistema de educação precário e formatado às necessidades e vantagens da clique que nos governa, na justiça, lenta, inoperante e perigosamente parcial, porque pressionada às escâncaras pelo regime, numa cada vez maior ausência de espírito de cidadania, no primado das políticas fracturantes como o aborto, o casamento entre homossexuais e, a curto trecho, a adopção de crianças por pares do mesmo sexo, na incompetência generalizada a todos os sectores vitais da nossa sociedade, no aumento despudorado do clientelismo e proselitismo, no favorecimento de uma elite de gente venal, atenta, veneradora e obrigada, no estabelecimento definitivo de uma censura descarada no seio de uma surpreendentemente cooperante comunicação social, na indignidade da nossa reputação no exterior, onde somos olhados já como autênticos bichos raros, depois de um (curto) período em que dispusemos de uma confortável reputação de modernidade, desenvolvimento e sentido cívico e, numa palavra, enfim, na corrupção campeã em que a promiscuidade entre o Estado e um grupo de empresários incapazes de crescer sem ser sob a sua sombra tutelar não só delapida a fazenda nacional como prejudica, com dolo, o desenvolvimento de empresários dignos do seu estatuto e que progridem (sobrevivem?) por si.
Concentremo-nos, assim, em Sócrates como causa primeira de todos os males que nos afligem. Há mais causas, como é evidente, mas Sócrates goza de um circunstancialismo raro. Seja porque sabe muito de muitos, seja porque a generalizada descrença nos políticos alimenta a ideia de que os políticos são todos iguais e, a ser assim, porquê mudar? E por isso é absolutamente necessário não esquecer que poderíamos até passar ao lado da incompetência deste homem, do seu estofo bacoco e inculto, que isso seria de somenos, mas não há como escamotear a sua tremenda eficácia em sobreviver a situações menos claras (diria que bem escuras) com a Face Oculta, o caso do Taguspark, o Freeport e o cortejo de inenarráveis situações de vídeos, tios, filhos de tios e correlativos, apartamentos comprados a preço de uva mijona e cujas escrituras desaparecem, off-shores, licenciaturas domingueiras e curriculos rasurados, amigos quase imberbes ganhando fortunas em empresas públicas ao serviço do regime, operações descaradas (e caras) de marketing político, como aconteceu com Figo, escândalo da Casa Pia (ultrajante o que se passou com Paulo Pedroso) e um infindável rol de mentiras, umas atrás das outras e que, estranhamente, parecem já não surpreender ninguém, matéria factual que qualquer jornalista recém-formado facilmente arrolaria nos arquivos da imprensa, da rádio e da televisão. Acresce que este homem é arrogante, malcriado e parece estar genuinamente convencido de que governa um rebanho de bípedes menores a quem se mostra a cenoura e dá a paulada à medida das suas (dele) conveniências.
As últimas manobras deste inenarrável (termo que parece ter «colado») primeiro-ministro complementam bem o que digo sobre a natureza da criatura. As manobras a que se prestou para poder, sem vergonha, acusar a oposição de todos os males que nos afligem, em linha, de resto, com a estratégia já usada nas presidenciais é o corolário da acção de um homem que a oposição, designadamente, Pedro Passos Coelho, parece apostar em manter à frente dos destinos do nosso país, através de uma acção desastrada e totalmente impreparada.
Mas há gente atenta. Nos jornais (apesar da tendência socialista), nas televisões (apesar da escandalosa bonomia para com o Partido do Governo) e nos blogues. Gente preparada, bem formada, informada e que não pactua com a maior fraude que me foi dado observar desde que sou gente. É preciso desmascarar/afastar este homem, não lhe dar tréguas. A ele. Sócrates. Porque os seus acólitos, quando ele for humilhado por uma eleição, esquecer-se-ão rapidamente da criatura e passarão de imediato na busca do chefe que se segue. São os tais «moluscóides», hoje por hoje a única coisa de jeito que ouvi Fernando Nobre pronunciar na sua viscosa e «moluscóide» itinerância política.
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6 Comments:
Nossa! Quanta coerência junta.
Um louvável exemplo de Patriotismo.
Vamos imaginar que estamos de acordo... e põe-se lá quem, quando é você o próprio a dizer que "Pedro Passos Coelho, parece apostar em manter à frente dos destinos do nosso país, através de uma acção desastrada e totalmente impreparada."?
Por me focar em Sócrates, à excepção do título, assinaria por baixo cada palavra deste post.
Por ver em Passos Coelho apenas uma versão soft, ou se quiser, a versão pré-primeiro-ministro de Sócrates (nem o "telefonema" que afinal foi reunião "breve" - de 4 horas!? -, privada, com alguém com quem nunca na vida voltaria a reunir sem testemunhas, lhe activa os alertas, caro Nelson?! Repare que até o Cavaco se parece agarrar ao Sócrates quando olha a alternativa, valha-me Deus!!!), precisamente por isto é que não é pelo voto que o quero ver afastado. Só de pensar que poderia regressar...
O inexorável caos económico e financeiro que se avizinha não considero hoje que seja um problema, mas antes o rastilho para a solução do nosso verdadeiro problema que aqui o Nelson tão bem descreveu!
Maria do Rosário
Obrigado e uma saudação daqui da Lusitânia :)))
Teófilo M.
Disse e reitero que Passos Coelho tem tido uma acção desastrada e que frequentemente favorece o Partido Socialista. E, sim, acho que isso resulta da sua impreparação como político. Mas isso não significa que Passos Coelho não apresente, pelo menos à partida, uma dimensão ética e de honestidade que Sócrates demonstrou não ter. Passos Coelho tem isso a seu favor... e já não é pouco. De resto, ao ponto a que as coisas chegaram, qualquer opção é melhor que Sócrates. E que diabo... não estou a inventar nada. É tudo FACTUAL. E deixe-me dizer-lhe que acho imoral a opinião de que não vale a pena mudar de primeiro-ministro porque os outros não têm experiência ou porque são todos a mesma coisa, uma noção criada pelo próprio Partido Socialista como quem diz, se são todos a mesma coisa, porquê mudar? Olhe, meu caro Teófilo, quando mais não seja para não me sentir en-ver-go-nha-do de cada vez que falo com gente (amigos e colegas de trabalho) de fora.
Pedro Barbosa Pinto
Estava a responder ao Teófilo M. quando o seu comentário entrou. Acho que o que disse ao Teófilo ilustra bem o que penso sobre o facto de Passos Celho parecer estar «verde» perante a eficácia de Sócrates.
Quanto a afastar Sócrates pelo voto... é porque ainda acredito na democracia. E não vejo outra forma de o afastar. Mas comungo dos seus receios. Não consigo ENTENDER como é que este homem (Sócrates) concita ainda 30% do eleitorado. Ou até entendo... mas é-me doloroso entender!
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