terça-feira, maio 25, 2010

A selecção de todos nós


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A selecção nacional está muito socialista para o meu gosto. Jogo enrolado, de trás para a frente, de frente para trás, lateralizado quanto baste, mastigado, faz que anda mas não anda, nem “nham nham” nem sai de cima, uma outra individualidade vai-se impondo mas depressa é absorvida pelo “mainstream” da coisa, fervilham as opiniões, os pareceres, as justificações, a intriga baixa, as entrevistas capciosas, o temor pelo que se diz ou pelo que se não diz e se devia ter dito, a erosão gradual da qualidade que indubitavelmente existia, o desejo de protagonismo de alguns, as trapalhadas, o diz-se que não disse, o espavento, o exibicionismo, uma total ausência de moderação de gestos e atitudes e, no final, o discurso redondo, inconsequente e vácuo do Grande Líder. Palavras de ocasião, a apologia da mediocridade e a insistência de que em tudo há uma lição a tirar, que daqui a pouco é que vai ser bom e uma cortina de sabedoria e proficiência que, não estando ao alcance da bitola mental da grei, não pode nem deve ser comentada em comunhão de ideias, sobretudo com os jornalistas medíocres que perseguem a selecção apenas na consecução de campanhas negras orquestradas pela oposição. Os responsáveis e, sobretudo, o Grande Líder, deixam apenas um ligeiro odor da científica coisa para nos eriçar a pituitária, com a perspectiva de que daqui para a frente é que vai ser.

O brilhante empate obtido ontem no jogo treino com Cabo Verde, por exemplo, foi um exemplo vivo de como esta selecção e respectivos mentores se vai parecendo cada vez mais com o Partido no Governo, ou com o governo do Governo do Partido. Vistas bem as coisas, vai dar tudo ao mesmo e hoje não me restam dúvidas que até no futebol onde reconhecidamente íamos dando cartas, o socialismo à moda da casa já chegou.

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