Activistas desactivados
Sugestão para os activistas hoje, em Copenhaga
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Quem estivesse em Luanda em 1975 durante os confrontos entre a Unita e o MPLA, deve lembrar-se de como os guerrilheiros em confronto observavam religiosamente a hora do almoço. Certamente uma herança em bom tempo recebida pelo colonizador luso, a sacralização do almoço fez escola, mesmo durante os mais renhidos combates. Bazucadas, morteiradas e rajadas entre o Catambor e a Vila Alice eram virtualmente suspensas ali pela uma, uma e meia e o luandense experiente sabia que a guerra parava para almoço. Os mais afoitos aproveitavam mesmo esse período para tratar de algum assunto ou abastecer-se de alguns géneros. De vez em quando aparecia uma patrulha ou outra, vergada ao peso de «kalashnikoves», granadas, fitas de balas, que exigiam «dentificação». Não era para mostrar os dentes, era para nos identificarmos e lá dizíamos que éramos o camarada x, se a patrulha era do MPLA, o irmão y, se a patrulha era da Unita e lembro-me até de uma vez que, na dúvida, estive para me identificar como camarão, camarada e irmão, porque a patrulha estava à paisana. Contive-me, os homens estavam cheios de metralhadoras e assim, e já nem me lembro bem como me «dentifiquei».
Esta descrição mais ou menos jocosa não é exclusiva de África. Afinal, também em Copenhaga os activistas recolheram a penates, desde que se abateu sobre a cidade um forte nevão e temperaturas negativas. Que isto de «activar» é muito bonito mas à neve e ao frio, não dá muito jeito. Os activistas têm algum espírito de sacrifício mas tanto assim, não. Daí que fizeram uma pausa meteorológica. Com sorte, o frio e a neve manter-se-ão até ao fim da conferência e os activistas vão activar para outra freguesia. Também em Atenas, os activistas viram-se gregos com a vaga de frio. Não neva, mas chove, que molha muito e traz imensas constipações, e faz um frio dos diabos. Daí que desactivaram também. Despoletaram. Pararam. Desengataram. Neutral. Ponto morto. Enrolaram uma mantinha e foram pôr os pés ao borralho. E acharam que partir montras ao frio é uma maçada. Antes assim. Não vá apanharem uma gripe e o que seria de todos nós sem o folclore desta rapaziada que vai activando pelo mundo fora? Quer dizer, mundo fora não é bem assim, mas seguramente pelo mundo livre, onde os activistas se podem indignar imenso.
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Etiquetas: almocinho, freezing cold
2 Comments:
Gostei muito deste post.:)
Há realmente uma grande distância entre a teoria e prática!
Afinal a Guerra" do Solnado está bem perto de alguma realidade..
xx
papoila
Gosto que gostes.
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