quarta-feira, novembro 18, 2009

Heranças


Sugestão para Madaíl. Costumava funcionar...

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Entre os vários episódios da recepção aos jogadores da selecção portuguesa à chegada a Sarajevo, entre cuspidelas e impropérios, reparei na revista minuciosa das bagagens. E permito-me pensar que esta revista nada tem com a manifestação nacionalista dos Bósnios, consubstanciada no tiro ao alvo com «escarretas», dedos espetados e insultos (em inglês e português, disseram-me).

A revista minuciosa das bagagens foi sempre um instrumento muito usado nos países da esfera da ex-União Soviética. Mais do que procurar fosse o que fosse, a revista consistia num acto de humilhação, coisa que, como se sabe, era uma imagem de marca de regime. Em África, então, por alguns países em que passei e me submeti à revista e tinha de responder a verdadeiros inquéritos, com perguntas, por exemplo, do género, para que é isto?, enquanto miravam uma embalagem de aspirinas, havia situações verdadeiramente caricatas que me dispenso de citar mas que muitos, como eu, se lembrarão. A Bósnia, lembremo-nos, saiu de um regime desses. E há tiques que ficam e levam algum tempo a passar. Agora, é preciso é avisar estas criaturas (e não só Bósnios) que de duas uma: ou fazem, como parecem querer fazer, parte de um concerto de nações civilizadas e adoptam procedimentos consentâneos com esta condição, ou deixam-se estar na deles. E isto não tem nada a ver com situações de uma nação dilacerada por guerras, massacres e diferenças étnicas. Tem a ver, vão por mim, com heranças que perduram dos regimes dos amanhãs que cantavam imenso e do amigo a cada esquina.
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