DN - Uma ternura de jornal
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Eu lembro-me do respeito e até veneração que o Diário de Notícias me infundia em miúdo. Eu ainda mal lia jornais, mas só o cabeçalho bastava para me indicar que estava em face de uma coisa séria, uma coisa de gente graúda, respeitável, e que ainda por cima o meu pai lia com atenção. Das vezes em que me aventurava pelo interior das suas páginas, mais arreigada era a convicção de que aquilo era coisa mesmo à séria e que quando eu fosse grande também queria ler o Diário de Notícias, como o meu pai e outros senhores de fato e gravata que eu costumava ver no autocarro (nesse tempo, as pessoas andavam de fato e gravata nos autocarros).
Hoje, o Diário de Notícias, circunstancialmente, é um jornal que deixei de ler há cerca de dois anos, sob pena de não ganhar para kompensan. E esta capa explica-me bem porquê. Num verdadeiro hino àqueles que se preocupam com o amigo Joaquim e por ele zelam, a capa dedica um generoso espaço ao 64º homem mais poderoso do mundo (na verdade um dos fundadores do pântano em que vivemos e que abandonou o navio como os ratos inteligentes). Depois, a notícia de que os ingleses arquivaram Freeport. Qualquer coisa ao estilo, «nós não vos dizíamos?» Finalmente o toque de ternura, o cafuné delicado, a noticia que faltava aos portugueses: Sócrates brincava com Dinky Toys, quando era pequenino. Imagine-se. Eu era mais Corgi Toys, o que me faz pensar que passei ao lado de uma grande carreira. Tivesse eu brincado com a Dinky em vez da Corgi e, provavelmente, outro galo cantaria. Ainda por cima abastardei a coisa porque cheguei a uma altura que até com os Matchbox brincava, o que mostrava bem como eu era uma criança volúvel e sem potencial sentido de Estado. Não me apercebi que a Dinky era para os predestinados.
Eu lembro-me do respeito e até veneração que o Diário de Notícias me infundia em miúdo. Eu ainda mal lia jornais, mas só o cabeçalho bastava para me indicar que estava em face de uma coisa séria, uma coisa de gente graúda, respeitável, e que ainda por cima o meu pai lia com atenção. Das vezes em que me aventurava pelo interior das suas páginas, mais arreigada era a convicção de que aquilo era coisa mesmo à séria e que quando eu fosse grande também queria ler o Diário de Notícias, como o meu pai e outros senhores de fato e gravata que eu costumava ver no autocarro (nesse tempo, as pessoas andavam de fato e gravata nos autocarros).
Hoje, o Diário de Notícias, circunstancialmente, é um jornal que deixei de ler há cerca de dois anos, sob pena de não ganhar para kompensan. E esta capa explica-me bem porquê. Num verdadeiro hino àqueles que se preocupam com o amigo Joaquim e por ele zelam, a capa dedica um generoso espaço ao 64º homem mais poderoso do mundo (na verdade um dos fundadores do pântano em que vivemos e que abandonou o navio como os ratos inteligentes). Depois, a notícia de que os ingleses arquivaram Freeport. Qualquer coisa ao estilo, «nós não vos dizíamos?» Finalmente o toque de ternura, o cafuné delicado, a noticia que faltava aos portugueses: Sócrates brincava com Dinky Toys, quando era pequenino. Imagine-se. Eu era mais Corgi Toys, o que me faz pensar que passei ao lado de uma grande carreira. Tivesse eu brincado com a Dinky em vez da Corgi e, provavelmente, outro galo cantaria. Ainda por cima abastardei a coisa porque cheguei a uma altura que até com os Matchbox brincava, o que mostrava bem como eu era uma criança volúvel e sem potencial sentido de Estado. Não me apercebi que a Dinky era para os predestinados.
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Etiquetas: clientelismo, comunicação social
1 Comments:
Olá Nelson.
Se calhar é melhor irmos ver a "ficha técnica" a ver se o Engenheiro já comprou o jornal!!! :)
xx
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