Até que enfim
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Uma vez fiz um passeio à Serra da Estrela e, ao chegar à Covilhã, lembrei-me das cherovias. Porque me lembrava que, em miúdo, a minha mãe as cortava em fatias, panava-as e fritava-as, resultando tudo num agradável pitéu, assim uma coisa a fugir para a cenoura, com cor de nabo mas que não sabia nem a uma coisa nem outra e deixava um certo gosto anisado na boca. Disse a uma amiga que me acompanhava:
- Vamos comer uma cherovia.
- Comer uma… quê?
- Uma cherovia.
- Se não descodificares a coisa fico na dúvida se me estás a contar uma anedota picante ou se te devo mandar parar para te levar a um médico…
Este curto diálogo serve para ilustrar a minha surpresa porque, pela primeira vez na vida, me aparece alguém que sabe o que é uma cherovia. O MEC. Miguel Esteves Cardoso, na sua crónica de hoje do Público (sem link), fala em cherovias (que ele detesta, aliás) e eu julgo saber que, fora da Covilhã, devemos ser os dois únicos portugueses que sabem o que é uma cherovia. É que a coisa tem sido de tal forma, ao longo dos anos, que eu desisti pura e simplesmente de falar em cherovias. Ninguém, repito NINGUÉM, alguma vez, pareceu conhecer, de leve que fosse, uma cherovia. E, todavia, ela existe nas adjacências da Covilhã e existe mesmo um festival anual da Cherovia. A parte cómica é que mesmo na Covilhã, só os idosos parecem conhecer a planta. E isso constatei-o quando, com a tal minha amiga, perguntei a uma série de gente onde é que podia comprar cherovias e só ao fim de várias tentativas infrutíferas, um velhote me disse que podia encontrar no mercado. Mas só no Verão. Como era Inverno, a minha amiga ainda hoje não acredita muito na história da cherovia.
Nota: O MEC parece odiar cherovias. Eu acho que ele está fatalmente atingido pelo stress pós traumático de quem viveu na Inglaterra e onde, naturalmente, tinha de comer, pela simples razão de que os ingleses não sabem cozinhar em geral e, certamente, cherovias (que eles chamam de parsnips) em particular. Porque se os ingleses têm uma noção primitiva do palato (o café para eles é uma "coffee drink" e o arroz doce - rice pudding - uma mistela de arroz com leite e açúcar com que eles rematam uma peça de carneiro a saber a bedum, disfarçado com toneladas de "chutney") como é que haviam de fazer obra asseada com a cherovia? Mas a verdade é que, à portuguesa, entenda-se, bem temperada com sal e limão, enrolada em ovo e pão ralado e frita, a cherovia é um pitéu agradável. Sobretudo pelo travo de anis que contém. Ou a zimbro, não sei definir bem.
A cherovia é uma Pastica sativa e não tem nada a ver com o nabo (Brassica rapa), nem com a cenoura (Dauccus carota). O MEC hoje fez-me sorrir por razões diferentes das habituais. Fez-me recordar os tempos de criança em que íamos de férias para a Serra e nos empanzinávamos de cherovias e fez-me perceber, com alívio, que há pelo menos dois lisboetas, ele e eu, que sabemos o que são cherovias.
Uma vez fiz um passeio à Serra da Estrela e, ao chegar à Covilhã, lembrei-me das cherovias. Porque me lembrava que, em miúdo, a minha mãe as cortava em fatias, panava-as e fritava-as, resultando tudo num agradável pitéu, assim uma coisa a fugir para a cenoura, com cor de nabo mas que não sabia nem a uma coisa nem outra e deixava um certo gosto anisado na boca. Disse a uma amiga que me acompanhava:
- Vamos comer uma cherovia.
- Comer uma… quê?
- Uma cherovia.
- Se não descodificares a coisa fico na dúvida se me estás a contar uma anedota picante ou se te devo mandar parar para te levar a um médico…
Este curto diálogo serve para ilustrar a minha surpresa porque, pela primeira vez na vida, me aparece alguém que sabe o que é uma cherovia. O MEC. Miguel Esteves Cardoso, na sua crónica de hoje do Público (sem link), fala em cherovias (que ele detesta, aliás) e eu julgo saber que, fora da Covilhã, devemos ser os dois únicos portugueses que sabem o que é uma cherovia. É que a coisa tem sido de tal forma, ao longo dos anos, que eu desisti pura e simplesmente de falar em cherovias. Ninguém, repito NINGUÉM, alguma vez, pareceu conhecer, de leve que fosse, uma cherovia. E, todavia, ela existe nas adjacências da Covilhã e existe mesmo um festival anual da Cherovia. A parte cómica é que mesmo na Covilhã, só os idosos parecem conhecer a planta. E isso constatei-o quando, com a tal minha amiga, perguntei a uma série de gente onde é que podia comprar cherovias e só ao fim de várias tentativas infrutíferas, um velhote me disse que podia encontrar no mercado. Mas só no Verão. Como era Inverno, a minha amiga ainda hoje não acredita muito na história da cherovia.
Nota: O MEC parece odiar cherovias. Eu acho que ele está fatalmente atingido pelo stress pós traumático de quem viveu na Inglaterra e onde, naturalmente, tinha de comer, pela simples razão de que os ingleses não sabem cozinhar em geral e, certamente, cherovias (que eles chamam de parsnips) em particular. Porque se os ingleses têm uma noção primitiva do palato (o café para eles é uma "coffee drink" e o arroz doce - rice pudding - uma mistela de arroz com leite e açúcar com que eles rematam uma peça de carneiro a saber a bedum, disfarçado com toneladas de "chutney") como é que haviam de fazer obra asseada com a cherovia? Mas a verdade é que, à portuguesa, entenda-se, bem temperada com sal e limão, enrolada em ovo e pão ralado e frita, a cherovia é um pitéu agradável. Sobretudo pelo travo de anis que contém. Ou a zimbro, não sei definir bem.
A cherovia é uma Pastica sativa e não tem nada a ver com o nabo (Brassica rapa), nem com a cenoura (Dauccus carota). O MEC hoje fez-me sorrir por razões diferentes das habituais. Fez-me recordar os tempos de criança em que íamos de férias para a Serra e nos empanzinávamos de cherovias e fez-me perceber, com alívio, que há pelo menos dois lisboetas, ele e eu, que sabemos o que são cherovias.
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11 Comments:
Não conheço cherovias, mas rima com rodovias e já me fez lembrar de Javier António Mendonça Bardem !!:)))
Moral da história: Passeios à Covilhã, só com amigas cultas eheheh
Sim, confesso, que até tenho uma certa saudade e fomeca (passados 30 anos) da cherovia e, pior ainda, do "swede", ainda mais pestilento e anabado: http://en.wikipedia.org/wiki/Rutabaga.
Mesmo assim: afastem-se, pestilências, venham de onde vierem!
Migue
Dulce Braga
Por mim, acho que
cherovias rima também com ironias. E mulher irónica é de respeitar. Mas com tanta rima e "histerofonia",
fica é o Javier António Mendonça Bardem a ganhar
:)))
IL
Tens toda a razão, nuca mais fui com amigas incultas à Covilhã... Contigo, por exemplo, apesar de nunca termos ido àquela cidade, a questão nunca se levantaria, pois tenho a certeza que conhecias as cherovias. São até no Código Penal Português...
:))
Beijinhos cultos
MEC
Das pestilências conhecidas, há uma que pertence à minha lista de inconfessáveis preferênciast. O fish&chips, sobretudo se for genuino bacalhau fresco...
P.S. Já agora: Mas o "swede" É um nabo (Brassica napus), ao contrário da cherovia.
E há quem no Porto também as conheça, embora para as provar tenha tido que se deslocar a França. Lá chamam-se panais.
http://boiremanger.canalblog.com/archives/2007/12/31/7393081.html
Nunca tal tinha ouvido falar e a minha familia é da zona do Fundão um pouco abaixo da Covilhã :)
Maloud
Acredito, Maloud. Mas a agrande maioria das pessoas do meu círculo não conhecem :)
Ellen
Lá está! Pouca gente conhece. nem na Covilhã...
:))
Sou lisboeta e conheço cherovias, já somos três... aliás, somos mais, pois conheço mais gente que não é da Beira e conhece e aprecia a cherovia. Outra coisa, a cherovia é parente da cenoura, da mesma classe, ordem e família. E parente do funcho também.
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