quarta-feira, maio 28, 2008

Votar à esquerda e governar à direita


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"...Ou seja, com os partidos da direita a vegetarem, o PS recebe os «louros» de governar à direita..."


Esta frase, recolhida de um post do Tomás Vasques, na sua aparente simplicidade, encerra um mundo de perversidade. Perversidade intrínseca e perversidade circunstancial, pela inevitabilidade de que as coisas em Portugal são assim mesmo. Já nem se discute. Trocando por miúdos, de há muito que se convencionou que para ganhar eleições se faz campanha pela esquerda enquanto que a governação tem necessariamente de ser feita à direita. Quer porque a esquerda tenha o papel ingrato de papas e bolos quer porque, realmente, não consegue por si, resolver seja o que for. Daí que os tolos a quem se deu as papas e os bolos nas campanhas exijam depois que a governação se faça à direita. Fazem-no inconscientemente, mas fazem-no. Um pouco como os partidos progressistas da minoria branca da A. do Sul quando combatiam o apartheid mas rezavam para que o mesmo se prolongasse para o bem de todos, sobretudo do deles.

Mas as coisas não têm que ser sempre assim. Só um povo estúpido e visceralmente iletrado pode continuar a ter este tipo de comportamento. Ou bem que se quer e vota esquerda ou bem que se acaba de vez com as patetices da utopia e das especulações estéreis sobre a esquerda, os valores da esquerda e, sobretudo, aquela arte de se dizer as banalidades em que a esquerda é fértil, sem qualquer sustentação. A este propósito, vale a pena ler este artigo de opinião de Mário Soares, no DN. Não que ele escreva nada de novo ou talvez por isso mesmo, por nada escrever de novo é que o artigo é um exemplo acabado de um pensamento redondo, utópico e perfeitamente inócuo. E revelador de uma insuportável vaidade.

Se governar à direita dá louros ( e parece que dá) chegado deveria estar o tempo em que as campanhas se deveriam fazer pela afirmação inequívoca dos valores da direita. E quem quiser empunhar o estandarte da esquerda que o faça e mantenha a coerência depois de ganhar as eleições. Sem que tenha de meter socialismos na gaveta que parece ser o destino de muitos valores da esquerda do nosso descontentamento. E isso de proclamar a esquerda para depois a meter na gaveta é batota. Batota pura e dura. Que é o que a esquerda tem feito e faz melhor. Batota. Passar a fazer campanha pela verdade, mesmo que isso represente perder eleições é um imperativo nacional e talvez a única forma de acabarmos de vez com o nosso atavismo e passarmos a viver descomplexadamente segundo os parâmetros que acharmos poderão proporcionar progresso, desenvolvimento e justiça social, sem paradigmas ou pensamentos doutrinários que nunca resolveram nada a ninguém mas que a intelectualidade mais ou menos frustre acha que daqui para a frente é que vai ser.

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10 Comments:

At 12:17 da tarde, Blogger Carlota disse...

E com este (muito bom) discurso, vais candidar-te ao quê?
É que é um desperdício ficares-te pelo blogue. A sério!

 
At 2:12 da tarde, Anonymous Anónimo disse...

Assino por baixo
ABF

 
At 2:45 da tarde, Blogger LurdesMartins disse...

Eh lá... parece que o Espumante se chateou de vez!
Onde é que eu assino mesmo?!
Beijinhos

 
At 9:09 da tarde, Blogger António Chaves Ferrão disse...

A Direita anda meio pró envergonhadito? O que deseja, desconsegue falar? So sorry.
Avança pois tu, Espumante. Quem sabe, tens a solução. Também gostava de conhecer.
Um abraço

 
At 6:45 da manhã, Blogger Nelson Reprezas disse...

carlota

Sei que estás a ironizar, mas o problema é que muitas vezes salta a tampa das pessoas que ainda acham que a actividade e o pensamento políticos são essenciais para o bem estar das pessoas. E os exemplos como o que cito sucedem-se...
beijola

 
At 6:46 da manhã, Blogger Nelson Reprezas disse...

ABF
Não sei se é o "ocidental, se for congratulo-me por ter voltado às lides
:)

 
At 6:46 da manhã, Blogger Nelson Reprezas disse...

Lurdes
A sua assinatura é sempre benvinda neste blog
Um beijinho

 
At 6:51 da manhã, Blogger Nelson Reprezas disse...

antónio chaves ferrão

Como habitualmente, "treslês" o que escrevo. Eu não falei em soluções para coisa nenhuma, limitei-me a constatar um facto que me impressiona - sempre me impressionou, aliás. A batota da esquerda para conseguir os objectivos. E os objectivos são o poder tout court. Quando o tem nas mãos é que é o diabo. Não só não faz a mínima ideia do que fazer com ele como, quando faz, faz merda. Ou, se um pouco mais pragmática, mete na gaveta aquilo que usou nas suas campanhas eleitorais, assim que reconhece a inadaptação das suas ideias á realidade.
Sempre assim foi, não é de agora...
Um exemplo recente são as SCUT...

 
At 10:10 da manhã, Blogger Carlota disse...

Não estava a ironizar na parte do bom discurso. Estava a brincar na parte da candidatura porque (acho que) sei que não tens ambições desse género. Mas isso não quer dizer que não esteja de acordo com o que tu afirmas, sobretudo na parte em que urge impregnar a actividade política de mais honestidade.
Beijola.

 
At 5:48 da tarde, Blogger António Chaves Ferrão disse...

Espumante, agora sem ironia.
Sabes onde me parece residir o verdadeiro problema? è que a Direita em Portugal não tem confiança de poder encontrar alguém melhor, pragmaticamente falando, do que Sócrates. Alguns "barões sociais-democratas" já disseram sem rebuços que estão dispostos a votar nele.
Que o homem "pinte" o quadro com linguajar de esquerda, naturalmente não incomoda nada tais barões. Faz até um jeito enorme. Vai desacreditando as ideias de esquerda.
Quanto à esquerda fazer ... enfim. Se queres desempenhar algum papel, vais ter que te esforçar um pouco mais.
Um abraço.

 

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