terça-feira, abril 15, 2008

Desacordo ao acordo


[2451]

Graça Moura mostrou ser um dos raros presentes na edição de ontem do Prós e Contras com um argumentário suficientemente sólido para rejeitar liminarmente o acordo ortográfico. Tanto tecnicamente, apesar de não ser um linguista, como racionalmente, apresentando matéria factual que claramente irritou o professor Carlos Reis.

Carlos Reis socorria-se de risos trocistas e a raiar a pesporrência para defender o indefensável e não fosse a concorrência de Lídia Jorge (espantosa superficialidade...!), teria levado a taça.

Mas o que verdadeiramente me eriçou foi uma resposta de Carlos Reis: Questionado sobre as razões de os ingleses não terem acordo ortográfico, Carlos Reis respondeu que… era por força de uma questão cultural. Fiquei assim a saber que a cultura dos ingleses não lhes permite alterar a grafia. O que, como se percebe, é esclarecedor. Ficámos todos muito esclarecidos.

É nestas alturas que eu gostava que este tipo de programas tivesse moderadores a sério. Em vez de saltitar pelo palco e interromper a cada instante os intervenientes, aqui esteve uma boa oportunidade para Fátima C. F. interromper e perguntar a Carlos Reis: Professor, não quer esclarecer isso melhor?

Assim, ficámos a saber que os ingleses não mudam a ortografia… por uma questão cultural. Period!

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9 Comments:

At 9:53 da tarde, Blogger Zé Paulo Gouvêa Lemos disse...

Prezado Espumante,

Um tanto incentivado pelo o que aqui escreveu neste "post", acabei por "postar" algo lá no meu cantinho algo que começou por o que seria um comentário para aqui colocar. Se lhe der jeito, dê lá uma passada.
Um abraço.
ZP
http://lanternaacesa.blogspot.com/2008/04/acordo-ortogrfico-ii.html

 
At 7:48 da manhã, Blogger Nelson Reprezas disse...

zé paulo
Já fui ao "lanterna acesa", o que aliás faço com alguma regularidade.
Eu creio que muito dificilmente concordaremos nalguns pontos essenciais da discussão, mas claramente respeito os seus pontos de vista. Só não percebo a atitude afobada dos defensores do acordo, com se não houvesse amanhã.
A sua terra está cada vez mais linda (refiro-me a Maputo, claro).

 
At 8:21 da manhã, Blogger MRP disse...

Verdade seja dita que os artistas principais convidados para defender o acordo fizeram um péssimo serviço à causa.

Verdade também que tem muito mais "glamour" ser contra o acordo: podemos lançar pomposos elogios à ilustre cultura lusa, podemos socorrer-nos dos poetas e escritores que foram fazendo a história da nossa língua e podemos mesmo utilizar bonitas figuras de estilo como aquela da plasticidade das palavras.

Mas alinhar na argumentação de que o acordo não é preciso para nada porque a lusofonia está bem e recomenda-se, parece-me leviano.

Não acho que seja sintoma de grande saúde o facto de, por exemplo, existirem em Timor professores brasileiros e portugueses a ensinar português com ortografias diferentes; ou que em Angola se recusem generosas doações de livros infantis editados no Brasil porque a ortografia não corresponde àquela que é ensinada na escola.

Querer negar que existe actualmente uma progressiva divergência linguística entre certos países da CPLP é autista. No espaço de pouco tempo escrever sem as famosas consoantes mudas passou de mau português a português (do Brasil). A mim parece-me evidente que num futuro mais ou menos próximo isso irá ser considerado como escrever em Brasileiro.

Não é que isso seja necessariamente mau e se calhar essa é mesmo uma evolução natural que não faz sentido querer contrariar (português e galego também tiveram outrora uma raiz semelhante…). E apesar de não ser esta a minha opinião, devo dizer que tenho o maior respeito pelos falantes que preferem que assim seja a terem de suportar a humilhação de outro Finis Patriae.

 
At 2:38 da tarde, Blogger QC disse...

O Carlos Reis disse mais enormidades " A pronúncia era uma questão fundamnetal!"
( já nem alvitrei: será que ele nos quer pôr a traulitar brasileiro???)
O argumento dele cai por terra com a existência dos autocnes de S. Miguel! P. Ex. E ele tem é um grande Auto-trauma da pronúncia Açoriana da Ilha terceira que não consegue neutralizar por mais que se tenha tentado.
... Estive na laterna acesa e parece que esse sr. responde à questão que o C.Reis não fez ...

 
At 4:51 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

mrp
Há aqui uns pontos desalinhados entre a minha e a sua opinião, a saber:
- Acho exactamente o contrário. O glamour parece estar do lado daqueles que defendem o acordo e não dos que o renegam. É reparar nas personalidades em questão e pode ser que o mrp mude de opinião.
- Não vejo porque é que se tenha de uniformizar a grafia pelo facto de haver professores portugueses e brasileiros em Timor, ou Angola recusar livros de edições brasileiras. É um problema que na aprendizagem do inglês não se põe. Como exemplo, pobre, admito, repare que até os computadore têm english (UK) e english (USA) e o próprio português tem português Portugal e Português Brasil.
- Não estou nada contra admitir que todas as línguas evoluem, mas isso não significa que evoluam no mau sentido, Técnicos, linguistas e filólogos têm produzido abundantes razões para que entendamos que o acordo remete para uma estratégia política e para a nosssa habitual tendência para os temas fracturantes, já que é sempre fácil acusar os que estão contra o "darwinismo", de velhos do Restelo. É uma história velha e relha. Mas em que somos exímios.

 
At 4:56 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

mrp
Já agora, segui o seu link e verifiquei que vive em Bruxelas. Penso que será fácil obter aí o Público de hoje (A Carlota tem solução, com certeza... :))) ) Leia um artido que lá vem do Rui Ramos sobre o tema. Acho-o excelente. Senão, pode ir ao Portugal dos Pequeninos que o João Gonçalves transcreveu-o na íntegra.

 
At 4:57 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

de.puta.madre
pois...

 
At 9:30 da manhã, Blogger MRP disse...

Sem querer estender o debate para além do que é razoável para a caixa de comentários de um blog, gostaria no entanto de acrescentar duas notas.

A utilização do exemplo inglês é, na minha opinião, overwhelming. Além de se tratar de uma dimensão completamente diferente, esquece-se normalmente o facto de que não existe uma grafia oficial inglesa (repare que os computadores não tem só dois englishes – tem uma data deles); isto é, se eu analisar nos EU ou analizar em Inglaterra em nenhum dos casos se dirá que estou a faze-lo incorrectamente – ao contrário do que se passaria com os actos no Brasil ou os atos em Portugal.

A evolução de que eu falava não era a evolução da língua em si mas sim a evolução natural divergente entre diferentes formas da mesma língua. Isto é o que eu penso que se passará com o português (Portugal) e o português (Brasil) se nada se fizer para o contrariar: num prazo mais ou menos longo irão transformar-se em duas línguas diferentes (não me parece necessário argumentar porque é que isso não acontece com o inglês!). E como disse, não é que isto seja necessariamente mau mas faz com que a questão central sobre a existência de um acordo ortográfico se coloque essencialmente no plano político (de outra forma nem sequer atreveria a pronunciar-me) e na estratégia que se queira definir para a língua Portuguesa: ou tentamos unificá-la ou deixamos que divirja. Agora, dizer que não existe problema nenhum é que me parece pouco perspicaz.

Em relação ao Publico não é, infelizmente, assim tão evidente consegui-lo em tempo útil aqui em Bruxelas (nem mesmo recorrendo aos bons ofícios da Carlota!). Felizmente que vão existindo os blogs. O artigo é, como quase tudo o que o Rui Ramos escreve, muito bom. Mas como normalmente acontece nesta nossa tendência para os temas fracturantes, deixamo-nos levar para o extremar de posições; pois eu (provavelmente por estar há demasiado tempo sob o cinzento de Bruxelas) tendo cada vez mais para o compromisso, que neste caso se situará algures entre o pessoal do Quinto Império e aqueles que acham sempre que estamos a dar um passo maior do que a própria perna. O que na prática quer dizer: acho que deve existir um acordo porque acho que é importante que exista um quadro de referência para a língua portuguesa que possa ser seguido pelo conjunto de países da CPLP; no entanto, se este acordo gera assim tantos amargos de boca, a sua ratificação poderá ser lesiva e por isso seria melhor renegociá-lo e definir uma nova proposta enquadrada numa estratégia mais global para a língua e cultura lusófonas que reunisse um maior consenso (se quiserem até podem tirar aqui umas ideias aqui dos flamengos, que são prodigiosos a inventar formas de proteccionismo linguístico.)

xiça, quisto ficou bué dagrande!

 
At 4:43 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

mrp

O que eu não consigo verdadeiramente entender é porque toda a gente diz que com o inglês é diferente. E eu ainda acrescentaria o espanhol, onde o caso é muito semelhante ao inglês. Diz o prezado mrp que há diferentes grafias de inglês. Pois há. Esse é exactamente o ponto. Por isso, porque é que terá de haveruma grafia única para o português, sobretudo se isso significar adulteração em vez de evolução?
De resto, continuando a ler o seu comentário não vislumbro grande divergência entre nós.
Quanto ao espaço aqui, disponha sempre.

 

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