segunda-feira, março 17, 2008

Apocalipse daqui a um bocadinho


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É bem perceptível uma movimentação desusada na esquerda engomada, nos vários órgãos de comunicação social, bloggers incluídos. A simultaneidade de alguns fenómenos mundiais negativos, como a crise económica, escândalos de corrupção, emergência de possíveis ditaduras nalguns países da América Latina, guerras e recrudescimento do terrorismo terão produzido uma inércia torrencial de muitos agentes consonantes na ideia que parece ter-se instalado de que o fim do capitalismo e dos capitalistas está próximo para dar lugar a uma nova ordem mundial.

Por outro lado, alguns acontecimentos políticos nacionais, com relevância para a marcha de indignação dos professores, de que o PCP e BE disputam agora os despojos, provocaram uma extraordinária movimentação neste sentido. Artigos de opinião, programas de rádio e posts de blogs que normalmente se manifestavam de semana a semana e que agora se desdobram em produção diária, mormente na transcrição de notícias parciais e distorcidas que fazem adivinhar o fim próximo do capitalismo. As manhãs que não chegaram a cantar há trinta anos ensaiam agora novos trinados e surgem putativos maestros, todos irmanados na presunção de que agora é que é. Afastados que forem alguns impecilhos boçais, tipo “utentes” diários de cacilheiros, restará a nata que nos há-de guiar nas vias desinfectadas de uma sociedade nova e justa.

Não fora a trabalheira, o prejuízo e o atraso que esta gente dá de cada vez que se sente habilitada a gerir a coisa mundial e ainda teria graça. Mas não. Já cansa. Mói e entedia. Esperemos que alguns focos de turbulência ora presentes amainem, para ver se esta gente se acalma e regressa ao casulo confortável e seguro que os regimes, que tanto abomina, lhe conferem, para podermos todos estar mais tranquilos.

NOTA: Um bom exemplo é um programa diário no RCP ao fim do dia em que Ana Sousa Dias, doce, melíflua e inteligente se arma de uma equipa de conhecidos jornalistas e bloggers e disserta sobre os mais diversos temas. Tudo num registo e num tom como se todos, mas todos, pensassem como eles e partilhassem um mundo diferente, que não aquele em que vivemos. O tal mundo novo que de admirável pouco tem, apesar da assepsia e correcção política que lhe implantam através de um programa de rádio muito inteligente e tudo menos inocente.

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7 Comments:

At 11:33 da tarde, Blogger António Chaves Ferrão disse...

Caro Espumante
Não pratiques com tanto afinco a arte de deitar os foguetes e apanhar as canas. Bem sei que, no teu conceito, há pessoas que, embora estando biologicamente vivas, estão perpetuamente desprovidas de razão; que os acontecimentos de hoje não são acontecimentos verdadeiros, não possuem direito próprio à existncia, não passam de iterações fastidiosas de acontecimentos passados. Como se na vida a novidade tivesse sido banida e o que resta não passasse de um monstruoso déjà vue.
Por mim, é novidade que um director de um canal de televisão chame hooligans aos participantes de uma manifestação de professores (não estou habituado a isto). É novidade que Proença de Carvalho estaja rendido aos encantos do Socialismo à la mode de José Sócrates. Desconfio que esta espécie de socialismo começa a recolher também a tua simpatia. Como vês, até há novidades a sério, nem tudo é simples repetição. Cada dia é um dia.
O Espumadamente já não é um exercício de auto-entretenimento? Rendeu-se ao chora-que-logo-bebense?
Um abraço.

 
At 8:27 da manhã, Blogger Nelson Reprezas disse...

antónio chaves ferrão

Meu caro António Chaves Ferrão. Não sei se entenderei na sua total dimensão o tom "clorídrico" do teu comentário. Por outro lado, reparo que lhe falta um certo "fio de jogo", pelo que passarei a responder aos bocados, pegando nas peças à medida que for tropeçando nelas. Assim:

1)Foguetes e canas

Quem me conhece sabe como odeio foguetes e outras pirotecnias afins. De resto, não vislumbro quais as razões do meu alegado foguetório quando, afinal, a situação geral do meu país está a raiar o intolerável e a fazer-me recear por um futuro que eu gostaria fosse tranquilo e seguro para os meus;

2) Razões perpétuas

Não há, nunca disse que havia, razões perpétuas, "o tempo é feito de mudança", lá dizia o poeta e eu, felizmente, tenho sabido adaptar-me às profundas mudanças da minha geração. Nem jamais terei deixado passar a ideia de que as ideias diferentes das minhas não têm direito a existência.

3) Novidades

Independentemente de eu concordar ou não com Rangel, qual é o probldema de ele achar que algumas manifestações de professores têm sido exemplos de hooliganismo? São expressões, são opiniões e, no limite, se algum professor se sente ofendido resta-lhe sempre o recurso á justiça. Não presta, mas é a que temos. Em qualquer caso, hooligan parece-me uma expressão terna comparada com muitas das expressões que já tenho ouvido, trauliteiras, mentirosas e difamatórias em que a esquerda é fértil. O PS, por exemplo, é fértil nesse tipo de expressões e seria fastidioso repeti-las aqui. Proença de Carvalho estar rendido aos encantos do socialismo... não percebo a tua irritação. Há tantos convertidos! Se mudarmos as origens poderia falar em convertidos como Vital Moreira, por exemplo. So what? Não estás habituado porquê? Qual é o problema? Já quanto à tua desconfiança sobre as minhas simpatias pelo PS, penso que podes perder algum tempo a ler muitos dos meus posts. Neles é visível o meu repúdio pelo Partido Socialista e por muitas das suas abencerragens. Inúmeras. Sócrates e Guterres à cabeça de um extenso pelotão. Não percebo, assim, a tua sugestão. Finalmente, o

4) Espumadamente

Este blog sempre foi, é e será até eu o acabar uma peça de auto-entretenimento. Esta designação contempla escrever sobre tudo o que me ocorra e apeteça no momento ou me impressione os sentidos. Independentemente da qualidade que possa ter, não haverá muitos blogues tão diversificados como este em que tanto falo de política como de flores, mulheres bonitas, família, poesia, lugares, sabores e até, imagine-se, correntes blogoesféricas, alinhando com muitos amigos que fiz por aqui. Por isso não entendo a minha rendição ao chora-que-logo-bebismo, para usar a tua terminologia. Nem sei se isso terá a ver com o blog da excelente Madalena, aliás professora revoltadíssima com a ministra (logo discordando de mim) mas que me privilegia com a sua amizade. Retribuída, aliás. Ou estarás a referir.te a Gomes ferreira?
Fico na dúvida.

Aceita um abraço e fico a torcer que possas, em liberdade, continuar a lançar foguetes e a apanhar as canas que te aprouver. Coisa que eu de certeza absoluta não poderei ou poderia fazer se as ideias que pareces defender se instalassem no poder. Tenho a certeza. Absoluta. E isso não muda. Porque seria a negação da evidência. Mesmo com operações de cosmética (em Cuba, os cubanos, imagina, já podem frequentar hotéis. Já viste a festa? Já viste mais esta conquista da revolução? Eu sei que este exemplo é de esquerda brega, daquela que já não se usa, mas não deixa mesmo assim de ser paradigmático)
Um abraço outra vez.

 
At 10:30 da manhã, Anonymous Anónimo disse...

Lanças foguetes quando tentas adivinhar as ideias que eu tenho na cabeça e o que elas representariam em condições que ninguém viveu; lanças foguetes quando transformas Cuba no centro explicativo dos acontecimentos em Portugal.
Já te ocorreu alguma vez que processos de intenções não dignificam ninguém? Quantas vezes tens recorrido a eles? Será esse o limite máximo que alcanca do teu pensameto? Devo notar que não és o único, simlesmente a companhia nessa crença não será das melhores e tu próprio a enjeitas.
Já te ocorreu que pode haver situações de desconforto que afectem um grupo numeroso de pessoas em Portugal, independenemente de o que se passa em Moscovo, em Cuba, ou alhures? E que um processo social tem o direito a existência própria em Portugal, sem ter que ser visto como replicação de qualquer outro?
Quarenta hooligans num simples dia de jogo de futebol na Bélgica deixaram um rasto de quarenta mortos; e tu aceitas os termos da comparação. Não seria necessário descer a um nível tão dplorável.

 
At 10:56 da manhã, Blogger Nelson Reprezas disse...

antónio chaves ferrãp

Correcção: relativamente aos hooligans eu não aceitei os termos de comparação. Aceitei a liberdade de expressão. Mesmo da calúnia e da ofensa, que para isso se fizeram tribunais.

1) Nunca tentei adivinhar os teus pensamentos, era o que faltava.

2) Aquilo que chamas situações de desconforto de grupos de pessoas em Portugal frequentemente relevam de um conforto ilusório gerado à custa de estratégias eleitorais de que o PS é um exemplo claro e Guterres a sua proeminência nefasta. No caso concreto dos professores não me ocorre ter visto um tão forte movimento de classe quando o governo de Guterres se entreteve paulatuinamente a escavacar (não foi só este governo, mas foi muito importante a sua acção)os alicerces das educação. Alguns professores aceitaram, ignoraram ou, mesmo, activamente colaboraram na formação do "aluno novo". Ainda, situações de desconforto podem e devem ser discutidas à revelia de ideologias políticas claramente alienadas a um sindicato guiado pelo Partido Comunista português porque, por muito que se negue, é disso que se trata. Mas quem sou eu para estar para aqui a fazer estas afirmações? A esmagadorea maioria de críticos, cronistas, comentadores políticos e especialistas dizem isto mesmo e condenam a actitude corporativista dos professores, excepto os obviamente conotados com a Fenprof. Ou as "cruzadas" inteligentes e bem orquestradas de agentes como o "A educação do meu Umbigo".
Não sei porque é que "isto" resvalou para os professores, talvez porque no fundo tenha sido este conflito que tenha conduzido ao extremar de muitos pontos de vista. Haja alguma coisa de positivo, pelo menos.
Um abraço

 
At 5:45 da tarde, Blogger -pirata-vermelho- disse...

Só melíflua...

 
At 5:46 da tarde, Blogger -pirata-vermelho- disse...

(...e bem paga, claro)

 
At 9:58 da manhã, Blogger Nelson Reprezas disse...

pirata-vermelho
Bem paga não sei, deve ser, melíflua, de certeza!

 

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