quinta-feira, maio 10, 2007

Os meus cães cheiram melhor que os teus



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Por razões circunstanciais conheci muitos ingleses, o suficiente para perceber muitas das suas imensas qualidades e inúmeras idiotices. Os “pommies” constituem um manancial de histórias e de anedotas, mas todos temos de reconhecer que são gente de têmpera, racionais (com flaws de capacidade cognitiva pela irracionalidade dos outros, bem entendido), corajosos e mesmo o facto de uma grande parte deles não tomar banho todos os dias não impede que tenham uma aparência física aceitável.

Mas há uma coisa em que eles são absolutamente insuportáveis. Os ingleses acham que todos os povos além Mancha têm um défice acentuado de muitas (todas?) características que fazem deles um povo, não melhor, mas diferente de todos os outros. Além de que os ingleses não entendem, não conseguem entender, hábitos e gostos estrangeiros, o principal dos quais será, certamente, como é que os não-ingleses não falam inglês e comunicam através de fonéticas ininteligíveis como o francês, o alemão, o espanhol e o italiano, ou como é que um degenerado yankee chama elevator a um lift ou grafa colour sem "u". Isto pode parecer um exagero, mas posso garantir-vos que não é. O inglês médio não percebe, não entende, não assimila e interroga-se sobre qualquer coisa deste género: Afinal há gente que comunica sem ser em língua inglesa? Mas depois, com a lógica que os caracteriza, resignam-se e pensam qualquer coisa como “bom, se até os golfinhos comunicam, porque não outros povos”?

O problema é que com alguma frequência os ingleses têm razão. Há situações tão inverosímeis, sobretudo a partir de povos latinos que os próprios latinos têm dificuldade em perceber. As conhecidas fotos “Portugal no seu melhor” são bem elucidativas do que digo. Os ingleses, possivelmente, ao olharem para fotos daquelas não se riem. Ficam, apenas, espantados enquanto murmuram Jesus, Mary, Joseph. Mas tudo junto e somado há que reconhecer que com esta coisa da globalização os ingleses vão ter que fazer um esforçozinho de integração e perceber que há mais Marias na Terra e que vão ter que conviver com elas.

Isto vem a propósito dos cães ingleses que farejam pelo Algarve o “scent” da infeliz Madeleine. Que mandem um par de especialistas lá da terra para ajudar nas investigações, um par de psicólogos para ajudar a família, tudo bem. Agora que mandem uma matilha de cães que, tanto quanto julgo saber têm o mesmo faro que os nossos apesar de ladrarem em inglês é que não faz sentido nenhum e ajuda a criar este clima de desconfiança mútua. Da nossa parte apetece-nos mandar os doggies farejar as avozinhas deles à hora do chá com o farrapinho de leite. Da parte deles, porque 2.000 anos depois de Cristo ainda acham que cães farejadores só há um. O inglês e mais nenhum. E que qualquer cão estrangeiro só pode ser tão estúpido como o dono.


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4 Comments:

At 10:48 da manhã, Blogger 125_azul disse...

Quem me dera ter escrito este post! Porque o teu post é tão infinitamente melhor que o meu? Deve ser porque eu a-do-ro chá. Com um farrapinho de leite, ah pois é!
Bejinhos, tem um dia feliz e mantém a inspiração

 
At 10:06 da tarde, Blogger Cristina disse...

lol

é mesmoo verdade, essa noção de "outros povos". porem, antes 10 ingleses genuinos que por exemplo 1 americano..pelo menos são muito mais elegantes, em tudo. :)

beijos

 
At 10:49 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

azulinha
Tu és a invenção mais simpática depois do espelho da raínha da Branca de Neve :)))
Traduzido por miúdos, és um doce.
Neijinho

 
At 10:54 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

Cristina
Concordo com o capítulo da elegância. O problema é que há dois grupos de ingleses. Os que nunca saíram da loira Albion e os que correram mundo ou são expatriados num país qualquer, sobretudo do terceiro mundo. Conheci dos dois tipos e os segundos, claramente, melhoram :))) os americanos têm a vantagem de serem eles próprios "expatriados" num passado mais ou menos recente (pouco mais de duzentos anos) o que lhes confere a vantagem que apontei ao segundo grupo dos ingleses. Confusa?
Tens razão. meti um pouco os pés pelas mãos
Beijinho dum português do segundo grupo :)
:))

 

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