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Hoje foi o baptizado da minha neta. Tudo decorreu sem incidentes, se atendermos a que pelo menos metade dos presentes não ia à igreja desde o tempo em que os animais falavam. A ladainha saía bem, os “ámen” saíam bem colocados, os convidados estavam bem compostinhos e até o padre, homem dos seus sessenta anos e de morfologia rubicunda era simpático. Talvez por ser rubicundo… talvez por ser simpático, mesmo. A bebé portou-se dignamente, olhando para os presentes com uma expressão que me pareceu ser de compaixão, até se deixar adormecer nos braços do pai. Enfim, festa bonita, bem apresentada. Gente bonita, bem ataviada, nada poderia correr melhor. Eis senão quando, mesmo sem silvado nem passarinho arrepiado, ouve-se m telemóvel a tocar. Toda a gente olhou para toda a gente com aquele ar reprovador de quem jamais se esqueceria de desligar o telemóvel e aguardou-se pacientemente ver alguém fazer uma expressão de embaraço e metesse a mão ao bolso para desligar o telemóvel.
Surpreendentemente ninguém o fez. O toque, daqueles polifónicos e irritantes, continuou, continuou e continuou até se esgotar, presumo, no voice mail. E não é que dez segundos depois o telemóvel volta a tocar? As pessoas entreolharam-se de novo, o olhar de reprovação voltou e não havia ninguém que levasse a mão ao bolso. Vergonha de se acusarem, pensei eu… enquanto o padre continuava a função, conseguindo mesmo acordar a bebé quando lhe verteu a água benta na moleirinha.
Cerimónia terminada, muitos beijinhos (não me lembrava desta dos beijinhos) e lá vão os pais, padrinhos e bebé para uma salinha ao lado para se assinar o assento do baptismo. Eu, que não era pai nem padrinho, achei que pelo facto de ser pai da mãe alguma prerrogativa me assistia e fui também. E é aí que o padre mete a mão ao bolso, tira um telemóvel, olha para o visor e diz:
- Ora vamos lá ver quem foi o chato que me telefonou duas vezes enquanto eu estava a trabalhar…
Igreja paroquial de Cascais, aos oito de Janeiro de 2007, 11:45. Não é que fiquei a simpatizar com o padre?
5 Comments:
É mister manter a linha aberta para o patrão, pois então!
Parabéns.
Beijinhos
Que desrespeito pela hora de trabalho....
Será que um destes dias, vamos ouvir um telemóvel a tocar, no bolso de um actor, que se esqueceu de deixar o dito no camarim?
Tudo é possivél...
Nas plateias acontece.
Terá sido o Espírito Santo?;-)
um abraço
... era deus a telefonar para lhe passar um raspanete?
Laura Lara
Anónimo
Periférico
Sinapse
Acreditem que gostei do à vontade da criatura. E mais ainda dos esgares de crítica que vi nos convidados, tentando saber de quem teria sido o desaforo de se ter esquecido de desligar o telemóvel :)
Um abraço para todos. Para a Sinapse e para a Laura tem que ser beijinhos, claro, sendo que os da Sinapse são beijinhos ungidos :)
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