sexta-feira, maio 26, 2006

Ai, Timor...




Dili - Bar da Praia de Sagres


[1022]

O drama que se vive hoje em Timor Leste ilustra bem como continuamos a ser um povo de causas e desígnios, mas sem a mais remota ideia das realidades geo-políticas de Timor ou seja do que for…

Embarcamos facilmente na buzina, na bandeira, camisas brancas por Timor e numas cantiguinhas de treta do Luís Represas. Escrevemos loas inflamadas sobre solidariedade, irmandade, liberdade, libertação, justiça e outros ademanes politicamente correctos, galvanizados por uma dinâmica muito própria, muito nossa, em tudo igual àquilo que já o Estado Novo fazia, sempre que era preciso apelar para as reacções colectivas do Zé. A favor de libertação da Timor ou da beatificação dos pastorinhos de Fátima.

Timor Leste está aos tiros e eu apostava que muita pouca gente fará uma remota ideia das razões para isso. Em último recurso, deitar-se-á mão da globalização, do capitalismo selvagem, do petróleo e, porque não, dos americanos.

Foi sempre assim. Porque é que com Timor Leste havia de ser diferente?

Vejo é poucos posts sobre o assunto. Porque agora já não se trata bem de dizer que a canção do Luís Represas é linda

17 Comments:

At 8:52 da manhã, Blogger anamoris disse...

Infelizmente tens razão. Eu apesar dos meus 38 anos às vezes ainda tenho ilusões e andava convencida que Timor era diferente. Outra desilusão....

 
At 11:09 da manhã, Blogger Guarda-factos disse...

Não, não, não. Sou muito menos fatalista quer em relação a Portugal, quer a Timor.
Os portugueses são genuínos, e ingenuamente solidários, perante injustiças. Eu sou. Não vi, nem vejo, resquícios de aproveitamentos económicos ou políticos na condução da causa pela libertação de Timor Leste. Sério.
Quanto à turbulência militar e agora política (temos um conflito institucional entre Presidente e 1ºMinistro), acredito tratar-se de uma das muitas crises de crescimento num país e numa democracia demasiados jovens. Até porque os royalties do petróleo ainda não pesam na enviesada redistribuição do rendimento. O país é, em termos absolutos, pobre. Aguardemos.

 
At 3:46 da tarde, Anonymous Anónimo disse...

"Foi sempre assim. Porque é que com Timor Leste havia de ser diferente?" - abraço, uma que, ainda não percebeu as origens reais do conflito e por isso está calada que nem Nossa Senhora no dia em que não apareceu aos pastorinhos.

 
At 4:19 da tarde, Blogger 125_azul disse...

Pois...

 
At 5:40 da tarde, Anonymous Anónimo disse...

Cada vez estou mais convencido de que a culpa é do petróleo!

 
At 7:33 da tarde, Anonymous Anónimo disse...

Por estas bandas a confusão é outra: Primeiro falou o Costa, depois o Diogo, depois o chefe da casa civil, depois o presidente da junta e por fim o Soba. No total, eliminaram da programação o episódio do Noddy, um capítulo da Escrava Isaura e as últimas 24 horas da vida do Castelo Branco, sozinho, numa base da NATO algures na europa central. Algo não está correcto.

O nosso primeiro ministro, com aquele ar inconfundível e após diversas reuniões que tomaram mais de 10 dias, afirmou a disponibilização por Portugal de um contingente de 120 GNR's para auxiliar o restabelecimento da paz em Timor. A Austrália enviou 1800 homens (em 24 horas) e dois barcos de guerra. Não admira que: 1- A Galp não tenha ganho um concurso sequer para exploração dos blocos no mar de Timor (A Austrália participará, em conjunto com a ENI, em 3 deles); 2- Que andem várias nações mundiais a aliciar estados PALOP's irmãos a introduzir o castelhano ou inglês como língua oficial do país. 3- Conhecendo o Mari Alkatiri pessoalmente como conheço, era o meu exilado vizinho na saudosa Av. Mao Tse Tung, não é muito difícil perceber 'qual' o famigerado problema institucional que paira sobre aquela ilha. 4- Já nem sei o que diga. Algo não está correcto.

Infelizmente habituei-me (não muito, diga-se de passagem, já que as minhas 'A5' agora ficam no outro hemisfério) a esta triste forma de estar dos portugueses. De todos. Ninguém fala. Todos comem e calam. Querem lá saber. É triste. É muito triste. Que raio de governantes e de gestão económica! Mandem 2 fragatas Meco (com os dois helis de preferência), atulhadas de Fuzileiros e depois façam o charme que sabem fazer em Washington. Vão ver que:
1- Os timorenses agradecem;
2- Portugal será congratulado no The Sidney Morning Herald e no Los Angeles Times;
3- Os custos fixos são reembolsados;
4- Aumentaremos a auto-estima nacional;
5- Quiça, a retoma torna-se mais realista.
Algo não está correcto...

 
At 8:46 da tarde, Blogger C_mim disse...

Bem... Eu acho que na tua opinião reside 80% do porquê dos problemas de Timor.

No entanto,ao que parece, a rebelião foi iniciada por um grupo de militares - ex-guerrilheiros - expulsos do exército.

Agora não tenho dúvida que o Petróleo e outros recursos naturais de Timor serão sempre motivo para tensões e conflictos internos.

 
At 9:00 da tarde, Blogger papoilasaltitante disse...

´Já estive para postar lamentando as ocorrencias. Mas estou como a IO... como não sei a origem do conflito, não quero opinar sobre algo que não domino.
Agora tenho uma certeza... há conflitos de interesses por parte de alguém como sempre acontece nestas situações!!!
É sem dúvida de lamentar...
Bjs

 
At 10:33 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

anamoris
Benvinda ao Espumadamente

 
At 10:43 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

JoãoG
Se me ler bem verá que nunca questionei a genuidade dos portugueses relativamente a Timor. Também não sugeri, nem remotamente, que a nossa solidariedade assentasse em putativos interesses económicos. Limitei-me a comentar a forma como nos entregamos a uma dinâmica nem sempre expontânea, gerada e alimentada, sem termos a mínima ideia do que se está a passar, para além dos chavões fáceis que nos ensinam "como se fôssemos muito burros", como diz o anúncio. Eu vi centenas de pessoas em Lisboa com bandeiras desfraldadas nos carros a gritar Timor, Timor e nunca duvidei de como aquela gente estava a ser naturalmente solidária, mas ficou-me sempre a sensação que a genuinidade do acto poderia estar inquinada pela facilidade com que nos alojamos numa ideia politicamente correcta ou na forma doutrinária como estes fenómenos são tratados.
Provavelmente expressei-me muito mal e criei ideias erradas, no post que escrevi.
Um grande abraço

 
At 10:46 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

IO
O comentário que fiz ao JoãoG pode ser dedicado a ti também.
Eu não conheço a situação em detalhe, mas julgo que está em causa a dispensa compulsiva de cerca de cinco centenas de militares sinfluentes e mais ou menos incómodos para Xanana e Alkatiri e que não se conformam em ter sido "despedidos" e que querem o poder. Em linhas gerais, penso ser isto, mas admito que haja mais e eu não conheça.
Beijinho

 
At 10:46 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

125_azul
Eu diria mais: pois...
:)
Beijinho

 
At 10:47 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

canzoada
Benvindo ao Espumadamente
Penso que o petróleo possa ter peso, sim

 
At 10:51 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

muxanga
E estás à espera de quê para abrir um blog?
Algo não está correcto...
:)

 
At 10:52 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

c_mim
Concordo, absolutamente, acho que o petróleo ajuda muito
:)

 
At 10:53 da tarde, Blogger Nelson Reprezas disse...

papoilasaltitante
Algo correu mal no meu post... eu não opinei sobre as causas do conflito. O comentário que deixei ao JoãoG e à IO serve para ti também
Beijinho

 
At 2:30 da tarde, Anonymous Anónimo disse...

Timor fragilíssimo e distante
Do povo e da guerrilha
Evanescente nas brumas da montanha

Cantos danças ritos
E a pureza dos gestos ancestrais

Em frente ao pasmo atento das crianças
Assim contava o poeta Rui Cinatti
Sentado no chão
Naquela noite em que voltara da viagem

Timor
Dever que não foi cumprido e que por isso dói

Depois vieram notícias desgarradas
Raras e confusas
Violências mortes crueldade
E anos após ano
Ia crescendo sempre a atrocidade
E dia a dia --- espanto prodígio assombro ---
Cresceu a valentia
Do povo e da guerrilha
Evanescente nas brumas da montanha
(...)
Sophia de Mello Breyner Andresen

Como me deixa triste estas guerras...
sem nexo nenhum..

 

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