Todas diferentes, todas iguais
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O meu pai costumava dizer-me com aquele ar de "paizão" que eu, mais tarde, tentei imitar junto dos meus filhos, sem grande sucesso, devo dizê-lo, porque os meus filhos lidam comigo como se tivessem andado comigo no liceu, que toda a gente tem pais. Tanto os bons como os maus, os honestos ou vigaristas, gordos ou magros, fieis cumpridores da lei e assassinos, enfim, a ideia era exactamente essa – passar-nos a mensagem de que os filhos, por serem filhos, não deveriam escapar ao escrutínio geral das NEP (Normas de Execução Permanente, termo do exército português) da sociedade em que estamos inseridos.
Este preâmbulo para dizer que não podemos actuar assim do género, sei lá… as mulheres não sabem mudar um pneu e depois, em se tratando de uma filha prendada já não o dizermos ou, no máximo, dizê-lo baixinho, pela simples razão que a pessoa em questão é filha e não lhe devemos beliscar a reputação e qualidades. Filha que é filha é especial, é a "mailinda", sabe tudo, inclusivamente mudar uma roda.
Ora, o meu pai tinha a razão da sabedoria de muitos anos a cruzar-se com mulheres. Só lá em casa eram três… a minha mãe mais duas irmãs e posso assegurar-vos que não consigo sequer, mas nem remotamente, imaginar uma delas a mudar uma roda. São todas muito queridas mas tenho a certeza do que digo.
E é assim que estando eu a fruir aquele prazer muito especial que eu tenho todas as manhãs de tomar o meu próprio café em casa, acabadinho de fazer, com um par de torradas acompanhadas de um bom queijo e mais um par de coisas boas a roçar a luxúria gastronómica (é impossível que a luxúria não se estenda ao aparelho digestivo, ou estarei a envelhecer?) e tendo já levado o beijinho “té logo pai” da júnior “que estava atrasada para a faculdade” (ela está sempre atrasada para tudo, faz parte do seu código genético) recebo um telefonema, melhor um Kolmi que é uma coisa que as filhas mandam aos pais para lhes telefonarem e ser o pai a pagar.
Telefonei e ouvi uma vozinha, uma vozinha mistura de calda de açúcar em ponto salteada de framboesas e com a melíflua entoação de uma gata que faz um miau baixinho junto dos pés da dona, dizendo: - Pai, furei um pneu.
O resto é história e fim da história. A gente faz um bocadinho aquele papel de pai crispado que acha que as mulheres em geral e as filhas em particular furam imensos pneus mas adivinhem como é que a história acabou. Pois, assim mesmo como pensam. E agora vou tomar duche, que são nove horas e ainda estou para aqui a contar segredos da minha vida de todos os dias. Ahhh e escovar bem os dedos.
Podia ainda falar dos mais variados objectos que tive de ultrapassar até chegar ao pneu de socorro do carro dela, mas isso dava outro post e eu tenho mesmo de ir.
O meu pai costumava dizer-me com aquele ar de "paizão" que eu, mais tarde, tentei imitar junto dos meus filhos, sem grande sucesso, devo dizê-lo, porque os meus filhos lidam comigo como se tivessem andado comigo no liceu, que toda a gente tem pais. Tanto os bons como os maus, os honestos ou vigaristas, gordos ou magros, fieis cumpridores da lei e assassinos, enfim, a ideia era exactamente essa – passar-nos a mensagem de que os filhos, por serem filhos, não deveriam escapar ao escrutínio geral das NEP (Normas de Execução Permanente, termo do exército português) da sociedade em que estamos inseridos.
Este preâmbulo para dizer que não podemos actuar assim do género, sei lá… as mulheres não sabem mudar um pneu e depois, em se tratando de uma filha prendada já não o dizermos ou, no máximo, dizê-lo baixinho, pela simples razão que a pessoa em questão é filha e não lhe devemos beliscar a reputação e qualidades. Filha que é filha é especial, é a "mailinda", sabe tudo, inclusivamente mudar uma roda.
Ora, o meu pai tinha a razão da sabedoria de muitos anos a cruzar-se com mulheres. Só lá em casa eram três… a minha mãe mais duas irmãs e posso assegurar-vos que não consigo sequer, mas nem remotamente, imaginar uma delas a mudar uma roda. São todas muito queridas mas tenho a certeza do que digo.
E é assim que estando eu a fruir aquele prazer muito especial que eu tenho todas as manhãs de tomar o meu próprio café em casa, acabadinho de fazer, com um par de torradas acompanhadas de um bom queijo e mais um par de coisas boas a roçar a luxúria gastronómica (é impossível que a luxúria não se estenda ao aparelho digestivo, ou estarei a envelhecer?) e tendo já levado o beijinho “té logo pai” da júnior “que estava atrasada para a faculdade” (ela está sempre atrasada para tudo, faz parte do seu código genético) recebo um telefonema, melhor um Kolmi que é uma coisa que as filhas mandam aos pais para lhes telefonarem e ser o pai a pagar.
Telefonei e ouvi uma vozinha, uma vozinha mistura de calda de açúcar em ponto salteada de framboesas e com a melíflua entoação de uma gata que faz um miau baixinho junto dos pés da dona, dizendo: - Pai, furei um pneu.
O resto é história e fim da história. A gente faz um bocadinho aquele papel de pai crispado que acha que as mulheres em geral e as filhas em particular furam imensos pneus mas adivinhem como é que a história acabou. Pois, assim mesmo como pensam. E agora vou tomar duche, que são nove horas e ainda estou para aqui a contar segredos da minha vida de todos os dias. Ahhh e escovar bem os dedos.
Podia ainda falar dos mais variados objectos que tive de ultrapassar até chegar ao pneu de socorro do carro dela, mas isso dava outro post e eu tenho mesmo de ir.
29 Comments:
Lá diz o ditado: Quem tem filhos tem cadilhos ;-)
Um abraço
Presente de aniversário ou Natal para esta filha "desprendada": Uma anuidade do Automóvel Clube Português. Assim, ela liga para eles, eles sujam as mãozitas e o pai fica sem tema para o blog! Adorei!!! PS: eu sei trocar pneus... e sou sócia do ACP
Tão terno a falar da filhota. Sabes, isto dos filhos e das mães é a mesma coisa. Cá em casa há um ciúme enorme dos rapazes que estão para as mães assim como as meninas estão para os pais. E o equivalente à mudança do pneu é tudo o que tenha a ver com o conforto, com a satisfação dos apetites. Do género: Ó mãe, nunca mais fizeste mousse de chocolate.
Mas eu recuso-me a aprender a mudar um pneu! Mulher é mulher caramba!!!!! :)))))
Beijinhos!
É assim, pai que é pai vai mudar o pneu à filha. Ponto. Nem é porque a filha não sabe, mas é uma coisa de pai. O meu vai e pede-me para o avisar sempre. Ainda sente calafrios por não o ter chamado da vez que às 5 da manhã tive de mudar um na Crel com a MissM.
É que, apesar de não ser difícil, é pesado, custa, e não é coisa para as mãozinhas graciosas e de dedos esguios de uma menina. É coisa de pai.
E eu cá sempre achei que um homem não devia poder casar sem saber cozinhar nem uma mulher tirar a carta sem saber mudar um pneu - beijo, IO.
Quando isso me acontecer, e já que não posso recorrer a quem recorri na única vez que isso me aconteceu, já sei a que porta irei bater: :))))
Bjos
_Gota
É espantoso, caro Espumante, como lhe acontecem a si coisas que também acontecem aos outros...
Um abraço.
Periférico
Neste caso é uma cadilha
Que só faz o que ela quer
E não é por ser minha filha
Que deixa de ser, como as outras, mulher
:)
Um abraço
125_azul
Pois é... isso do ACP nem me ocorreu, aliás foi muito perto de casa. Mas depois, era como disseste, lá ficava sem assunto para o post :)))
E obrigado pela franqueza.
Madalena
É... tens razão... reparando melhor, lendo o post outra vez, acho que tens razão e que dei uma de mariconço, até parece que gostei de ter que ir desgrenhado, barba por fazer e a meio do café mudar uma roda à filha.
Mas é o que digo, se calhar tens razão :))))
Beijinho
Luna
E o que é que a menina andava a fazer na CREL às 5 da mamhã com a MissM?
:))
Beijos
IO
E mainada. Acho que tens tu toda a a razão. Mas isso iria provocar um grande desiquilíbrio, tínhamos de arranjar quotas. É que um ovo estrelado até um homem como eu sabe fazer. Agora mudar uma roda...
Gota
Nesse dia ficas sem bateria no telemóvel :))
Beijos
torquato da luz
Pois... tem razão. Eu tenho um bocado a mania que as coisas só me acontecem a mim. Mas sempre deu para fazer um post, se não forem estas coisas escrevo sobre quê? Se eu soubesse fazer poesia do quilate da sua ainda tinha uma opção, assim, olhe vou rezando para que a minha filha tenha um furo de vez em quando para eu fazer um postezito:))
Um grande abraço
Claro que depois também há umas miúdas que até sabem que os cintos de segurança têm várias posições de altura e coisa e tal... mas, ok, ok, isso também dava um post e se calhar vou escrevê-lo lá no meu :)))
Hipatia
Ó gaija do Norte tu não me tragas sugestões maquiavélicas à "criancinha" que ela só tem 20 anos :)))))
Hoje cheguei tarde e parece-me que sobre a mudança do pneu já foi tudo dito.
Mas o mesmo não aconteceu acerca do facto de a relação que tens com os teus filhos se assemelhar à dos amigos do liceu... que para mim foi um pormenor tão delicioso como o chocolate quente por cima do gelado de baunilha. :)
Beijola.
Carlota
Obrigado pela tua simpatia e amizade
beijola
Inteiramente de ascordo. Ou duas...
Em conjunto talvez conseguissem mudar um pneu
:)
barbara vale-frias
O comentário imediatamete acima é, naturalmente, para ti
Eu já tive 3 furos mas antes disso tive um curso de iniciação: ia no carro com o meu namorado e ele teve um furo. Ele também nunca tinha mudado um pneu mas uns conceitos básicos e duas cabecinhas de engenheiro chegaram, para mudarmos o pneu. Com isso aprendi e, quando me aconteceu a mim, não me atrapalhei. Pus mãos à obra. O certo é que das 3 vezes, me apareceram sempre cavalheiros a oferecer ajuda. Não me fiz rogada ;)))))))))))))
Caro espumante,
Obrigado pelo "flute" a transbordar, desta e das entradas que a seguem. Fiquei genuinamente bem disposto ao ler esta entrada (e a da empregada, mais acima, mas já lá iremos), para mais porque, apesar de ter ontem comemorado 8 anos desde que comecei a namorar a minha esposa e estar quase a fazer dois de casado, gostaria imenso de ter duas filhas - o que emprestou um sabor especial a esta sua entrada.
Um abraço,
RS
Rita Rabiga
Eu já o disse por aí noutro comentário. Vocês sabem mudar pneus. Os homens é que não deixam :))
rs
Há-de ter, com certeza. O importante é não parar a planificação :)))
fiquei comovida com a historia!
quando estava a tirar a carta o imbecil do meu instrutor, daqueles com a unha do mindinho grande que cuspia e assobiava para tudo o que era mulher, roliço e baixinho, fez-me mudar um pneu em frente à direcçao geral de viaçao, enquanto comentava com todos os seus amiguinhos, que com ele partilhavam a carreira e a imbecilidade.
Foi humilhante, para mais tinha umas calças descaidas muito pouco comodas para este tipo de questoes pneumaticas... enfim, tudo isto para dizer que acho muito bem que as mulheres nao saibam nem tenham que saber mudar pneus!
E ca estou eu, tambem, a contar coisas da minha vida privada!
(eu não sei mudar pneus ... mas, também não sei cozinhar!)
Beijinhos, ciumentos ...
(... porque em BXL não há meu Pai que me possa valer em caso de pneu furado ...)
Sinapse
Miss Springs
Esta Blogos é uma montra de vidas pessoais :)))
Tenho ido ao Spring and you know what? Like it :)
Tks to Rititi, não foi?
Suinapse
É uma questão de telefonares, quando (se)dtiveres um furo. Pode ser que eu esteja por perto. Ou então mando-te um mail a ensinar como é que se mua o tal do pneu
:))
Beijos
glad you like it!
sim, a rititi traz sempre coisas positivas à nossa vida!
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