terça-feira, maio 10, 2005

Post Analógico, Plástico, Denso, Elástico...



[359] - Li no Público...
"Vasco Graça Moura defende uma tese insustentável (ou, pelo menos, que deve ser combatida), mas extremamente interessante. Ela tem a ver com a globalização. Verificamos que hoje os produtos culturais, que nos habituámos a considerar analógicos, isto é, que têm uma espécie de plasticidade, o que significa que a nossa relação com eles é densa e elástica, se desloca entre o mais e o mais, funciona com as graduações de sentido, têm hoje um outro estatuto. Segundo Vasco Graça Moura, seriam produtos digitais e nessa condição a especificidade do cultural tende a desaparecer. Tudo é igual a tudo, porque tudo é redutível à linguagem do digital. O digital é como o dinheiro. Tal como o dinheiro é para nós um equivalente geral, o digital torna todas as coisas iguais. É também um equivalente geral. O que resulta daqui é que a forma liberta-se do conteúdo"
…e fiquei com raiva. Com inveja, admito. Ressabiado. É que por metade do preço eu poderia debitar um fraseado analógico, peço desculpa - análogo, ao de E. P. Coelho. Talvez não me levasse tão a sério mas, porventura, divertir-me-ia muito mais (tenho para mim que EPC não deve achar graça à vida...). Certamente pelo gozo que me daria ser pago para escrever coisas tão analógicas, estabelecendo uma clara analogia entra coisas tão análogas como o mais e o mais. É demais.

Já me aconteceu referir-me a tão analógica criatura e ser tosado por indefectíveis admiradores deste baluarte de cultura que dá pelo nome de Eduardo Prado Coelho. Há gente assim. Gente que é assim e que gosta assim. Eu não sou (talvez por isso não me paguem para escrever) e não gosto (talvez por isso me mantenha na cinzenta penumbra de uma total ausência de substância - analógica, está bem de ver). Mas não desanimo. Um dia perceberei melhor este fenómeno da cultura lusa, atenta, veneradora e obrigada a figuras que por esta ou aquela razão se guindaram a este invejável (!!) patamar que suscita reverências, citações e uma abençoada ligação natural a um posicionamento politico só ao alcance dos iluminados.

3 Comments:

At 9:38 da tarde, Blogger António Chaves Ferrão disse...

Espumante:

A sopa de massa é analógica ou digital? Debato-me confrangedoramente neste dilema para interiorizar se deva ou não gostar dela. E os doces conventuais? E o gaspacho? E o "Monte Velho"? Serão manifestações de cultura? Consegues libertar-me desta tortura? Grato pela ajuda.
Um abraço.

 
At 11:56 da manhã, Blogger Nelson Reprezas disse...

antónio ferrão

A sopa de "massa" é uma sopa de que todos gostamos. Uma forma de consegui-la é escrever uns artigos analógicos como o que refiro. Já os doces conventuais são, claramente, digitais. Eu, pelo menos, não dispenso uma lambidela de dedos, depois de os comer. O gaspacho é de definição mais complicada. Mas, no mínimo, são plásticos. O "Monte Velho"... pois, só poderia ser denso.
Espero ter atenuado, de alguma forma (e agora toda a gente, de alguma forma, diz "de alguma forma"...) a tua tortura.
Um abraço
:)

 
At 11:14 da tarde, Blogger António Chaves Ferrão disse...

espumante:

Quando glosas os devaneios abstraccionistas de EPC és bom. Mas quando espirras humor, és brilhante.
Que não desvaneça essa fonte de surpresas :)))

 

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