Calúnia à portuguesa
Quem tiver mais de 40 anos e o saudável hábito de gostar de
cinema poderá lembrar-se de um excelente filme do S. Pollack, Absence of Malice
(A Calúnia), interpretado pelo Paul Newman e pela Sally Field, um filme de
1981, no qual se estripa toda a imoralidade e despudor com que determinados agentes
da vida pública manipulam a imprensa. Um homem vê a sua vida destruída, por via
de uma repórter ingénua e idealista que veicula notícias manipuladas por agentes
interessados e chega até a haver um suicídio.
Aqui pela paróquia, a coisa hoje está diferente. Suicídios, verdadeiramente, já
não há por causa dos jornais. Primeiro porque o escândalo banalizou-se e,
demais, há um verdadeiro exército de gente, de jornalistas a comentadores de
televisão, repórteres, politólogos, sociólogos, analistas, especialistas, jornalistas
desportivos e outros que baralham muito as coisas. Não se calam, dão-lhes
guarida a troco de interesses inconfessados e tudo isto é agravado por uma
evidente incultura, falta de mundo, iliteracia, arrepiante desconhecimento da
gramática e, no caso dos mais jovens, subprodutos de currículos de educação
amestrada por aberrações ideológicas totalmente desadequadas à realidade
contemporânea e civilizacional.
Para «cobrir o bolo» há ainda uma camada de especialistas em
manipular os media à medida das conveniências dos seus mentores, coadjuvados
pelos inevitáveis idiotas-úteis que surgem em todos os sectores da nossa
sociedade.
Isto explica a procura incessante de «escândalos» que vão
sendo cavados à medida dos interesses de cada qual, chegando a ser ridícula a
permanente sabatina entre os homens das notícias, tendo como resultado a
alternância de escândalos. Se um PS é condenado, aqui d’El Rei que há um PSD
que fez uma malandrice qualquer e anda a ser investigado. E vice-versa,
convenhamos.
O escândalo recente de Passos Coelho ter recebido €5.000
mensais em regime de exclusividade é um bom exemplo, seguido à condenação de
Maria de Lurdes Rodrigues. A oposição salivou, os jornais venderam, a Judite de
Sousa quase que sorriu, a Ana Lourenço põe a expressão nº 3 de cara laroca que sabe
tudo sobre estes maraus e a Constança Cunha e Sá continua a ser acometida
daquele nervoso habitual que a leva às raias da apoplexia e até lhe entrelaça
as cordas vocais, não a deixando falar como deve ser e os jornais e televisões
«de referência» espremeram-se a noticiar a coisa. Socorro-me do João Miranda
mencionando este post no qual, por via do link, podemos observar o tipo de
notícias dadas por esses órgãos de comunicação (e quais). Entretanto, parece que
o homem não tinha exclusividade coisa nenhuma, percebendo os salários na maior
das legalidades. E “prontes” não se fala mais nisso.
Assim como assim, vale mais rever A Calúnia. Pelo menos há
uma história interessante, a jornalista é mais ingénua que imbecil e os vilões
são vilões a sério. Nada desta actual infantilidade reinante.
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Etiquetas: comunicação social
1 Comments:
Gostei!
xx
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