Porque é que as coisas têm de ser assim? Porque será que somos assim?
Num passado mais ou menos recente, eu era bastante crítico
acerca de alguns neologismos moçambicanos. Um deles era o corrente desconseguir.
O moçambicano chegava tarde ao trabalho porque desconseguia apanhar o
transporte a horas, tal como desconseguia uma infinidade de coisas e eu, confesso,
desconseguia ter paciência.
Hoje reciclo a minha atitude, porque quando uma proeminente
figura da minha paróquia inconsegue (!!!) qualquer coisa e, ainda, não sente uma espécie
de nível social frustacional derivado da crise, me sinto obrigado a olhar com simpatia
para a forma arguta e, mesmo, inteligente, como os moçambicanos supriam uma
óbvia impreparação académica com um assinalável sentido prático de comunicarem
e se fazerem entendidos. E, se duvidam, leiam esta pérola da nossa distinta
Assunção Esteves do que destaco esta insigne passagem:
“Temos sempre um receio
humano de não conseguir. O meu medo é o do inconseguimento, em muitos
planos: o do inconseguimento de não ter possibilidade de fazer no
Parlamento as reformas que quero fazer, de as fazer todas, algumas estão no
caminho; o inconseguimento de eu estar num centro de decisão fundamental a
que possa corresponder uma espécie de nível social frustacional derivado da
crise."
E depois digam-me se
estou a ser rebuscado, intolerante ou se tenho a mania. E façam lá bem esses estudos estatisticos e de opinião e concluam se a corrente migratória de jovens para outras latitudes se deve apenas a dificuldades económicas.
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Etiquetas: coisas extraordinárias, cretinismo militante, pontapés na gramática
4 Comments:
Feliz Ano Novo!
Vou copiar este parágrafo que acho genial :)))
A falarem assim uns com os outros não admira que ninguém se entenda!!!
xx
tudo isto me exponencia o nível frustacional
papoila
Bom ano para ti, também!
jpt
Como o entendo, meu amigo :)). Um grande abraço e bom ano
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