Vá, portemo-nos bem
O Estado, diligente e extremoso, mandou-me reflectir. A sensação
é semelhante à dos papás que mandam os filhos para a cama naquela hora certa,
para dormirem as horas certas, como aprenderam no manual de instruções.
Esta lei razoavelmente idiota será até razoavelmente
acatada, não fora algumas incómodas resultantes. Desta vez, por exemplo, desde que
interromperam o desporto nacional de bater em Passos Coelho, as televisões vieram,
em força, com o aquecimento global. E aí estão os especialistas, com aquele ar
misto de sabedoria e consciencialização política e muitos deles de rosto hirsuto,
como agora se usa imenso, explicando quantos graus a temperatura vai subir este
século (às décimas), quantos metros o nível do mal vai subir (ao centímetro) e
quantos quilómetros quadrados de gelo a calote polar vai perder (ao milímetro). E dizem
tudo isto como se estivessem a dizê-lo pela primeira vez. Nem Ban Ki-Moon,
aquela criatura estranha e mais ou menos inverosímil, faltou. Os separadores dos
programas são, como seria de esperar, muitas chaminés de fábricas a deitar fumo
para o ar, cidades atafulhadas de carros num exercício obsceno e continuado de
flatulência dos escapes e outras coisas que os capitalistas e os poderosos inventaram.
Ao fim de cerca de vinte e quatro horas de aquecimento global,
começo a sentir saudades dos algozes de serviço do Governo, Passos, Portas,
Maria Luís, Crato e Rosalino.
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Etiquetas: Reflexões
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