terça-feira, maio 10, 2011

O povo é sábio?

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Instalou-se na sociedade portuguesa a ideia de que o Partido Socialista é incompetente, irresponsável e causador da grave situação política e social que atravessamos. Por outro lado, que a alternativa de direita que se lhes depara carece igualmente de credibilidade. Umas vezes porque assim é na realidade, outras porque o Partido do governo, dispondo de uma poderosa organização comunicacional, explora exactamente essa vertente. O resultado é de que assim, não vale a pena mudar. Isso poderá explicar o aparente (e digo aparente porque, de um modo geral, as empresas de sondagens não são fiáveis, porque parciais e insistindo numa dinâmica de vitória sempre a favor do Partido do governo, à luz da estratégia que adoptaram) empate técnico entre os dois principais partidos de Poder. Eventualmente poderemos estar em face de uma transferência de votos do PSD para o CDS que, a avaliar pelas tais sondagens, apresentam resultados muito acima do costume, o que poderá ser um indicativo de que este Partido poderá estar à beira de um resultado nunca antes alcançado. Esta situação não seria desprezível se houvesse a garantia de que o PSD ganharia as eleições, mesmo que por reduzida margem, prefigurando-se depois uma inevitável e esperar-se-ia que profícua aliança com um CDS reforçado e, naturalmente, com mais eficácia do que a que tem tido até aqui.

Sinto, pelo que oiço e pelo que leio, que esta teoria se generalizou e que as pessoas vivem mais ou menos na presunção de que será o que vai acontecer. Porque o povo é sábio e porque o PS merece ser severamente punido pela mal que nos causou. Eu não estaria assim tão certo. O PS é um Partido poderoso nas técnicas comunicacionais, o povo poderá até ser sábio mas é consabidamente permeável às dinâmicas e estratégias instituídas. E como não prevejo uma aliança entre Portas e o PS, sobretudo depois de ter assistido ao penoso debate entre Portas e Sócrates ontem na TVI, uma vitória do PS colocaria o País numa situação bastante complicada.

Por mim, que não sou político nem jornalista, nem politólogo, nem comentarista ou paineleiro da imensa oferta nacional em matéria de comentário político acho que há uma vertente que não tem sido devidamente explorada. Muito simplesmente a de que um país não precisa apensas de uma boa gestão política, económica e social. Um aspecto determinante é, também, a decência. A decência é um fenómeno institucionalmente aceite na nossa sociedade e que, apesar de tudo e dos tratos de polé a que é sujeita frequentemente, terá de ser ainda a pedra angular de todas as outras políticas e estratégias. A ideia de que a decência tem de ser muitas vezes sacrificada ao pragmatismo político não colhe. Há mínimos exigíveis e, neste particular, talvez que o escrutínio da falta de decência de que o Partido do governo deu mostras ao longo das suas legislaturas chegasse para definitivamente arredar esta clique de gente mal formada, incompetente, arrivista e definitavemte prejudicial ao desejável esenvolvimento do nosso país. Na verdade, no combate político,vejo muita gente agarrada a PEC, ao PEC e ao PEC. Ao défice e ao orçamento e correlativos. Talvez que se alguém minimamente preparado para relembrar aos portugueses a trapalhada, trafulhice, compadrio, encobrimento, cumplicidade, corrupção, pressões, chantagem, esbanjamento de fundos, promiscuidade e outros fenómenos que foram a imagem de marca deste governo, mas relembrasse bem, ou seja, bem documentado, com um arquivo apropriado das trafulhices em que este governo esteve envolvido, chegasse para que de uma vez por todas se afastasse esta ideia peregrina de que não vale a pena mudar o sentido de voto, porque os políticos são todos a mesma coisa. Muitos políticos, de todos os partidos, são maus, realmente. Mas daí a serem todos a mesma coisa, se comparados com esta camarilha que nos governou durante estes últimos seis anos, vai um grande passo. O passo que nos levou à trágica situação em que nos encontramos.

Decência, pois. É irmos por aí e esquecermos um pouco as «tecnicalidades». Falar do extenso rol de indecência (se possível com fotos, que as há de muitas das notícias da altura). Muito provavelmente o empate técnico que as agèncias gostam tanto de citar levariam um bom pontapé. Num sítio que eu cá sei. E que poderia ser aproveitado para darmos o mesmo pontapé no Partido que tem sido a vergonha e o prejuízo de todos nós. É uma questão de explicarmos isto bem explicado às pessoas.


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1 Comments:

At 6:18 da tarde, Blogger Teófilo M. disse...

Caro espumante,
acredito que tenha fortes queixas àcerca da governação e do partido que tanto detesta, mas poder-me-á dizer francamente, onde estavam os decentes políticos em Julho de 75 quando o PC e os esquerdismos dominavam este País.
Recordo-lhe apenas alguns factos:
- Sá-Carneiro repousava em Espanha a recuperar de uma intervenção cirúrgica em Londres, Emidio Guerreiro estava à frente do PSD mas não tugia nem mugia, o Freitas com os seus 16 tentava arranjar apoios para sabe-se lá o quê.
Pois... já se lembra...?
Quem é que ficou a enfrentar a besta? Lembra-se?
Foi na noite de 19 de Junho de 1975, eu não dormi toda a noite e acredite que não foi por andar na farra!

 

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