É lalanja, lalanja, é lalanja mia sinhóra
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Esta mulher é angolana e eu apostaria singelo contra dobrado que ela desconhece as luzes dos palcos, os aplausos de plateias compostinhas. Muito menos ouviu falar de escalas, notas, claves, semifusas ou semicolcheias. Também não saberá o que é um maestro, uma batuta, partitura ou outros palavrões do género. Limita-se a ter a alma dos poetas anónimos que criam os sons quentes e ritmados dos trópicos, em harmonia com a beleza nostálgica de um pôr de sol na Muxima ou a sombra de um embondeiro. E usa com mestria o jeito inato que se lhe arrumou nos dedos para extrair duma viola manhosa um ritmo sincopado e bem típico do sortilégio africano. Ora oiçam. E vejam, também, porque é digno de ser ver. E vejam depressa, porque provavelmente a artista terá de pegar na quitanda e ir para o bairro de cimento apregoar “…é lalanja, lalanja, lalanja, é lalanja, mia sinhóra…”
Etiquetas: facebook, música, tranquilidade, trópicos
11 Comments:
De facto, e deus (independentemente de qual deles) criou os dotados, mesmo os que, com mestria, vão descobrindo e revelando os demais.
Espectacular!
xx
Espumante.
Passei para saber de desaguizados e tropecei nisto. Resultado: pifei-te! So sorry...
Alexandra Sobral
Nenhuma falsa modéstia me impedirá de saudar e agradecer a presença da Alexandra. Não me apercebia que passava pelo Espumadamente.
Um beijinho e esta casa é sua.
papoila´
A papoila superlativa :)))
António Chaves Ferrão
Uff!!!! Esta de assinar com o nome quase completo é obra. A praxe coimbrã fez com que muitos anos depois ainda hoje me faça saber o nome completo do Manuel Álvaro Monçó e Cano Ponce Leão d'Eça Marques da Silva Leal (exemplo verídico...) :)))
Mas, deparando tu com esta virtuose eu saberia que não era possível resistires. Serve, também, para detectarmos e assinalarmos um ponto de convergência entre nós. O engenho e a arte de uma angolana :)))))
Um abraço!
Espumante: o nome não está completo. Antónios Ferrões há muitos, um deles é meu vizinho da rua. Nem todos têm a tua sorte.
Esta mulher é angolana e eu apostaria singelo contra dobrado que ela conhece as luzes dos palcos, os aplausos de plateias descompostinhas. Ouviu certamente falar de escalas, notas, acordes e ritmos. Saberá o que é um bordão e uma mudança de compasso e também saberá o que é um maestro e uma partitura apesar de não ligar a palavrões do género. Limita-se a ter o treino dos poetas anónimos que criam os sons quentes e ritmados dos trópicos, em harmonia com a beleza nostálgica de um pôr de sol na Muxima ou a sombra de um embondeiro. E usa com mestria o jeito de bater o pilão que se lhe arrumou nos braços para extrair duma viola manhosa uma linha de baixo acompanhado por acordes num ritmo sincopado e bem típico do sortilégio africano. Ora oiçam. É Mi. E vejam, também, porque pelas marcas no braço, a única que funciona. é digno de ser ver. E vejam depressa, porque provavelmente a artista terá de pegar no maço e continuar a bater o pilão.
Jorge Ferrão
Levei algum tempo a perceber que era Jorge e não António.
Digamos que estás a afinar por um diferente "diapasão". Mas conseguires perceber que a mulher toca em "mi", para mim é já uma coisa do outro mundo. Por mim, rendido à vulgaridade da minha reputação de ser badalhoco e dirty minded só me ocorreu que ela poderia estar a tocar em "mi", em cima de "si"... sem "dó".
Mas isto sou eu que vejo maldade em tudo :)))))
Bem visto!
Já agora, a missa completa:
"Mi em cima de Si sem Dó Lá no SolFá, RéRéRéRéRé"
:)
Simplesmente fantástico!
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