sexta-feira, maio 22, 2009

Flirt com selo branco em uso nesta repartição. Ou, hormonas de serviço público


É aqui. Na porta 1.08.01, não esquecer

[3145]


Deveres de ofício levam-me a Angola e, concomitantemente, a cumprir um processo kafkiano de exigências, algumas das quais presenciais.

Uma das exigências é, agora, um registo criminal que me levou, naturalmente, a duas lojas do cidadão, onde percebi que os interessados se postam em bicha ordeira ainda antes das portas abrirem, para obterem uma senha mágica que lhes permite ser atendidos para o fim em vista. Essas senhas esgotam ao fim de cerca de duas horas e não há simplex que valha a esta realidade. Depois de visitar duas lojas, acabei por ser aconselhado por uma funcionária simpática que o local menos sobrecarregado era no Parque das Nações, num departamento do Ministério da Justiça. Lá fui e reconheço ter ficado surpreendido com o ar funcional e moderno do edifico, enquadrado num cenário moderno e arejado. Só não gostei da porta 1.08.01, continuo a achar que as portas devem ser 1, 2, 3, 4 ou, quando muito, A, B, C, D e por aí adiante. Um edifício na rua D. João II, nr. 1.08.01 (endereço real) só pode resultar do engenho português.

Numa sala com quatro balcões de atendimento, lá me dispus a esperar a minha vez que era o D 62, numa altura em que o atendimento ia no C quarenta e qualquer coisa. Daqui resultou uma espera de cerca de duas horas e meia para um assunto que levou dois minutos a resolver. Mas isto, sou eu, que cheguei ao balcão, disse que queria um registo criminal e mo deram, sem mais delongas, após pagar não € 3,50, mas sim € 1,75 de requerimento mais € 1,75 de emissão, o que faz toda a diferença e me levou a entender que deve ser possível fazer um requerimento (e pagar) e depois não querer o certificado para nada ou, outra hipótese, que as receitas caibam depois em rubricas diferentes, o que poderá ser outra virtualidade do simplex.

Sentado, aguardando, entretive-me a observar um fenómeno curioso e que julgo extensivo a outras repartições, porque já o vi. É que a maioria de quem nos atende são mulheres. Algumas são, até, atraentes. E é aqui que está o busílis. Quando reparamos que a numeração das senhas está a andar depressa, há sempre um macho latino que começa a circular entre as colegas funcionárias e deve ter mil assuntos para tratar com elas, porque todas elas param e são, naturalmente, obrigadas a responder e a alimentar um diálogo de sorrisos, risinhos e dichotes mais ou menos ininteligíveis ao rebanho em espera. Isto aconteceu umas quatro ou cinco vezes enquanto esperei, sobretudo junto de uma das funcionárias, por coincidência a mais atraente, uma mulheraça de trinta e poucos anos, morena e com uns olhos enormes, impossíveis de passar despercebidos, depois, claro, de observadas outras minudências que o seu corpo generosamente mostrava. O macho, careca, alto e com ar de quem não sai de casa sem puir o espelho com a sua imagem por longos minutos, entrava pelo friso das atendedoras e falava e falava e falava e, às vezes, chegava a colocar a mão no ombro da mais bonita, certamente para lhe fazer sentir o espírito fraternal (paternal?) de que ele se deve sentir imbuído frequentemente e querendo significar que as mulheres podem confiar nele.

A irritação era grande e traduzia-se numa quase paralisação dos números de chamada de cada vez que o machão “atacava”. Sobretudo quando pensávamos que aquele exercício de flirt em directo terminava, enfim, e o macho acabava por se voltar, dar mais dois passos e regressar à pessoa de quem tinha uma evidente dificuldade em descolar. As pessoas, em espera, olhavam distraídas e acomodadas a este tipo de situações. Mas eu confesso-me invadido por um formigueiro tremendo que se não tinha nada a ver com facto de o homem se passear de plumas enfunadas junto do gineceu, tipo pombo a arrulhar, tinha, com certeza, a ver com o facto de que às duas e um quarto eu ainda não tinha um papel na mão a dizer “nada consta”, pelo qual eu iria pagar €1,75 pelo requerimento e €1,75 pela emissão.

Daqui deixo um aviso aos incautos. Quem se atrever a pedir um registo criminal no Ministério da Justiça ao Parque das Nações (porta 1.08.01, não esquecer o pormenor) deve manter-se calmo e frio com um senhor que deve ser chefe de secção, cá para mim, e que se acha irresistível perante as colegas. Porque se nos deixamos arrastar pela fúria ainda fazemos alguma que nos vai manchar o registo criminal. Que se quer limpinho, impoluto, senão não podemos ir a Angola.

.

Etiquetas:

4 Comments:

At 11:35 da manhã, Anonymous IL disse...

Meu caro, ou andas distraído ou não és de cá. O que relatas passa-se a toda a hora em todo o lado. E, claro, não só em repartições. Gostava que reparasses no que se passa por todo o lado, em que s homens perdem o sentido do ridículo pela figura que fazem. eh eh, doeu?
:D

 
At 1:47 da tarde, Anonymous Anónimo disse...

Maszatão um homem não tem que fazer o seu papel? De resto, por muito que nos chamenm nomes, elas gostam de ser assediadas. Ou flirtadas, como se queira.

 
At 8:24 da tarde, Blogger Sinapse disse...

Adorei! adoro este género de posts ... tal como adoro os (saudosos!) posts sobre os programas na TSF ... e também os posts sobre o Prós e Contras! ;)

 
At 8:10 da tarde, Blogger Cinha disse...

Ora bem, caro senhor

Pode até ter visto a minha feminina presença no programa Nós por Cá a quem relatei precisamente um facto do averbamento NOVO que leva agora o tal certificado do Registo Criminal, o que não aconteceu com o seu, dado que só entrou em vigor a Lei 113/2009 já em Setembro de 2009.Pois, aqui em Aveiro, graças a Deus, também há bons espécimens femininos, mas nem na Loja do Cidadão nem no Tribunal, um certificado demora mais do que 5 minutos. Valha-nos isso!
No entanto, sem flirts, nem hormonas soltas, falha um averbamento mal aplicado a diversas situações da citada Lei, que se tiver curiosidade, procure ver no vídeo sapo "registo criminal não envolve contacto regular com menores", depois de consultada a dita Lei para entender a minha revolta sem solução á vista, nem com 2 horas de espera nem com meses ou anos (??)
Não deixo de estar de acordo consigo...o que se vê por aí em Repartições Públicas e não há grandes hipóteses de mudança.
Guerra

 

Enviar um comentário

<< Home