Flirt com selo branco em uso nesta repartição. Ou, hormonas de serviço público
É aqui. Na porta 1.08.01, não esquecer
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Deveres de ofício levam-me a Angola e, concomitantemente, a cumprir um processo kafkiano de exigências, algumas das quais presenciais.
Uma das exigências é, agora, um registo criminal que me levou, naturalmente, a duas lojas do cidadão, onde percebi que os interessados se postam em bicha ordeira ainda antes das portas abrirem, para obterem uma senha mágica que lhes permite ser atendidos para o fim em vista. Essas senhas esgotam ao fim de cerca de duas horas e não há simplex que valha a esta realidade. Depois de visitar duas lojas, acabei por ser aconselhado por uma funcionária simpática que o local menos sobrecarregado era no Parque das Nações, num departamento do Ministério da Justiça. Lá fui e reconheço ter ficado surpreendido com o ar funcional e moderno do edifico, enquadrado num cenário moderno e arejado. Só não gostei da porta 1.08.01, continuo a achar que as portas devem ser 1, 2, 3, 4 ou, quando muito, A, B, C, D e por aí adiante. Um edifício na rua D. João II, nr. 1.08.01 (endereço real) só pode resultar do engenho português.
Numa sala com quatro balcões de atendimento, lá me dispus a esperar a minha vez que era o D 62, numa altura em que o atendimento ia no C quarenta e qualquer coisa. Daqui resultou uma espera de cerca de duas horas e meia para um assunto que levou dois minutos a resolver. Mas isto, sou eu, que cheguei ao balcão, disse que queria um registo criminal e mo deram, sem mais delongas, após pagar não € 3,50, mas sim € 1,75 de requerimento mais € 1,75 de emissão, o que faz toda a diferença e me levou a entender que deve ser possível fazer um requerimento (e pagar) e depois não querer o certificado para nada ou, outra hipótese, que as receitas caibam depois em rubricas diferentes, o que poderá ser outra virtualidade do simplex.
Sentado, aguardando, entretive-me a observar um fenómeno curioso e que julgo extensivo a outras repartições, porque já o vi. É que a maioria de quem nos atende são mulheres. Algumas são, até, atraentes. E é aqui que está o busílis. Quando reparamos que a numeração das senhas está a andar depressa, há sempre um macho latino que começa a circular entre as colegas funcionárias e deve ter mil assuntos para tratar com elas, porque todas elas param e são, naturalmente, obrigadas a responder e a alimentar um diálogo de sorrisos, risinhos e dichotes mais ou menos ininteligíveis ao rebanho em espera. Isto aconteceu umas quatro ou cinco vezes enquanto esperei, sobretudo junto de uma das funcionárias, por coincidência a mais atraente, uma mulheraça de trinta e poucos anos, morena e com uns olhos enormes, impossíveis de passar despercebidos, depois, claro, de observadas outras minudências que o seu corpo generosamente mostrava. O macho, careca, alto e com ar de quem não sai de casa sem puir o espelho com a sua imagem por longos minutos, entrava pelo friso das atendedoras e falava e falava e falava e, às vezes, chegava a colocar a mão no ombro da mais bonita, certamente para lhe fazer sentir o espírito fraternal (paternal?) de que ele se deve sentir imbuído frequentemente e querendo significar que as mulheres podem confiar nele.
A irritação era grande e traduzia-se numa quase paralisação dos números de chamada de cada vez que o machão “atacava”. Sobretudo quando pensávamos que aquele exercício de flirt em directo terminava, enfim, e o macho acabava por se voltar, dar mais dois passos e regressar à pessoa de quem tinha uma evidente dificuldade em descolar. As pessoas, em espera, olhavam distraídas e acomodadas a este tipo de situações. Mas eu confesso-me invadido por um formigueiro tremendo que se não tinha nada a ver com facto de o homem se passear de plumas enfunadas junto do gineceu, tipo pombo a arrulhar, tinha, com certeza, a ver com o facto de que às duas e um quarto eu ainda não tinha um papel na mão a dizer “nada consta”, pelo qual eu iria pagar €1,75 pelo requerimento e €1,75 pela emissão.
Daqui deixo um aviso aos incautos. Quem se atrever a pedir um registo criminal no Ministério da Justiça ao Parque das Nações (porta 1.08.01, não esquecer o pormenor) deve manter-se calmo e frio com um senhor que deve ser chefe de secção, cá para mim, e que se acha irresistível perante as colegas. Porque se nos deixamos arrastar pela fúria ainda fazemos alguma que nos vai manchar o registo criminal. Que se quer limpinho, impoluto, senão não podemos ir a Angola.
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Etiquetas: funcionalismo público
4 Comments:
Meu caro, ou andas distraído ou não és de cá. O que relatas passa-se a toda a hora em todo o lado. E, claro, não só em repartições. Gostava que reparasses no que se passa por todo o lado, em que s homens perdem o sentido do ridículo pela figura que fazem. eh eh, doeu?
:D
Maszatão um homem não tem que fazer o seu papel? De resto, por muito que nos chamenm nomes, elas gostam de ser assediadas. Ou flirtadas, como se queira.
Adorei! adoro este género de posts ... tal como adoro os (saudosos!) posts sobre os programas na TSF ... e também os posts sobre o Prós e Contras! ;)
Ora bem, caro senhor
Pode até ter visto a minha feminina presença no programa Nós por Cá a quem relatei precisamente um facto do averbamento NOVO que leva agora o tal certificado do Registo Criminal, o que não aconteceu com o seu, dado que só entrou em vigor a Lei 113/2009 já em Setembro de 2009.Pois, aqui em Aveiro, graças a Deus, também há bons espécimens femininos, mas nem na Loja do Cidadão nem no Tribunal, um certificado demora mais do que 5 minutos. Valha-nos isso!
No entanto, sem flirts, nem hormonas soltas, falha um averbamento mal aplicado a diversas situações da citada Lei, que se tiver curiosidade, procure ver no vídeo sapo "registo criminal não envolve contacto regular com menores", depois de consultada a dita Lei para entender a minha revolta sem solução á vista, nem com 2 horas de espera nem com meses ou anos (??)
Não deixo de estar de acordo consigo...o que se vê por aí em Repartições Públicas e não há grandes hipóteses de mudança.
Guerra
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