Perguntem à Ana Lima
[3044]
Esta terra abençoada tem um ideal escrito nas estrelas que nos há-de guiar até ao destino final da razão da nossa existência.
Ontem registei dois factos que são bem o espelho desta reflexão. Num deles, a Procuradora adjunta Cândida Almeida, regressada de uma reunião de trabalho tão séria e delicada como o apuramento de uma presumível pressão exercida pelo presidente da Eurojust junto das instituições e pessoas encarregadas da investigação do Freeport respondia, “candidamente”, diria eu, ao grupo de jornalistas que a questionavam sobre a reunião. Foi uma reunião de trabalho, disse a magistrada. Cândida sorria com ternura, exalava simpatia e comunicava com os jornalistas como se estivesse a comentar o último episódio de uma telenovela popular ou a revelar o segredo de um guisado de enguias. Perante a insistência dos jornalistas, diz Cândida que “a Ana Lima já tinha dito tudo". Eu não sabia quem era a Ana Lima, mas poucos segundos volvidos percebi que a Ana Lima não era a vizinha de ninguém, era uma magistrada que teria feito já algumas declarações sobre a reunião. A cena era mais ou menos patética. Um caso com a importância e possíveis repercussões do Freeport a ser tratado em amena cavaqueira e risos entre responsáveis e jornalistas. Com uma total ausência daquele cunho de seriedade que é o mínimo que se pode esperar em situações deste género. Tudo numa boa, risadinhas e "perguntem à Ana Lima".
Noutro caso, uma pessoa chegada e que repentinamente se viu lançada no desemprego dirigiu-se ao Ministério do Trabalho e Solidariedade para indagar sobre uma notícia que ouvira na televisão, segundo a qual o Estado comparticiparia até 50% da renda de casa de casais em que um dos membros estivesse desempregado. Perante a pergunta, a funcionária do atendimento disse que sim, “já ouviu qualquer coisa, mas ainda não tinham sido avisados de nada”. Avisados de nada? Perguntou a interessada. "Sim, não nos disseram nada mas é verdade que já ouvi por aí qualquer coisa”.
Estes dois casos relevam de uma forma peculiar de “estarmos”. Não sei se é bom se é mau. Desconfio que é muito mau, mas há quem diga que é esta forma estouvada e relativamente inconsciente que nos tem safo nos apertos. Uma “inconsciência” que tão depressa nos leva a depositar umas sobras numa conta suíça sem nos apercebermos verdadeiramente do que se está a passar (?), como nos faz atender um cidadão, da forma que referi, no Ministério do Trabalho. Não é por mal. Nem a conta da Suíça nem a resposta da funcionária. Feitios…
.
Esta terra abençoada tem um ideal escrito nas estrelas que nos há-de guiar até ao destino final da razão da nossa existência.
Ontem registei dois factos que são bem o espelho desta reflexão. Num deles, a Procuradora adjunta Cândida Almeida, regressada de uma reunião de trabalho tão séria e delicada como o apuramento de uma presumível pressão exercida pelo presidente da Eurojust junto das instituições e pessoas encarregadas da investigação do Freeport respondia, “candidamente”, diria eu, ao grupo de jornalistas que a questionavam sobre a reunião. Foi uma reunião de trabalho, disse a magistrada. Cândida sorria com ternura, exalava simpatia e comunicava com os jornalistas como se estivesse a comentar o último episódio de uma telenovela popular ou a revelar o segredo de um guisado de enguias. Perante a insistência dos jornalistas, diz Cândida que “a Ana Lima já tinha dito tudo". Eu não sabia quem era a Ana Lima, mas poucos segundos volvidos percebi que a Ana Lima não era a vizinha de ninguém, era uma magistrada que teria feito já algumas declarações sobre a reunião. A cena era mais ou menos patética. Um caso com a importância e possíveis repercussões do Freeport a ser tratado em amena cavaqueira e risos entre responsáveis e jornalistas. Com uma total ausência daquele cunho de seriedade que é o mínimo que se pode esperar em situações deste género. Tudo numa boa, risadinhas e "perguntem à Ana Lima".
Noutro caso, uma pessoa chegada e que repentinamente se viu lançada no desemprego dirigiu-se ao Ministério do Trabalho e Solidariedade para indagar sobre uma notícia que ouvira na televisão, segundo a qual o Estado comparticiparia até 50% da renda de casa de casais em que um dos membros estivesse desempregado. Perante a pergunta, a funcionária do atendimento disse que sim, “já ouviu qualquer coisa, mas ainda não tinham sido avisados de nada”. Avisados de nada? Perguntou a interessada. "Sim, não nos disseram nada mas é verdade que já ouvi por aí qualquer coisa”.
Estes dois casos relevam de uma forma peculiar de “estarmos”. Não sei se é bom se é mau. Desconfio que é muito mau, mas há quem diga que é esta forma estouvada e relativamente inconsciente que nos tem safo nos apertos. Uma “inconsciência” que tão depressa nos leva a depositar umas sobras numa conta suíça sem nos apercebermos verdadeiramente do que se está a passar (?), como nos faz atender um cidadão, da forma que referi, no Ministério do Trabalho. Não é por mal. Nem a conta da Suíça nem a resposta da funcionária. Feitios…
.
Etiquetas: a nossa insustentável leveza, Ai Portugal
4 Comments:
Perante a pergunta, a funcionária do atendimento disse que sim, “já ouviu qualquer coisa, mas ainda não tinham sido avisados de nada”. Avisados de nada? Perguntou a interessada. "Sim, não nos disseram nada mas é verdade que já ouvi por aí qualquer coisa”.
... ai valha-me São Cricalho ...
Sinapse
Adoro este teu S. Cricalho .)
Se me permite, apenas uma correcção: Cândida Almeida não é, nem nunca foi, juíza. É magistrada do Ministério Público, com o cargo Procuradora-Geral Adjunta. Parece que há um dia da semana em que faz intervalo e é comentadora (profissão muito em voga) na TSF.
Maria
Não só permito como agradeço. Correcção feita.
Enviar um comentário
<< Home