quarta-feira, março 11, 2009

Uma reflexão breve sobre as boas consciências relativas a Angola



Hotel Pestana - Luanda (projecto)

[3008]


Tenho alguma dificuldade em acomodar o coro de críticas que se ergue contra o regime angolano, cada vez que o assunto vem a talhe de foice. Angola é consabidamente um país de grande potencial económico e que despertou uma imensa cobiça, tanto no plano económico como no geoestratégico. Foi isso mesmo que percebeu Salazar, a União Soviética e os americanos. Só não o percebeu um punhado de almas impolutas que defenderam alegremente a estratégia da União Soviética. Umas vezes em consciência, como muitos dos que beneficiaram da nova ordem política que se instalou naquele país após a independência, fazendo fortunas a vender fardas e comida para os novos senhores da nova guerra, outra vezes agindo na pureza da sua arrepiante inocência, achando que se deviam entregar à nobreza da causa dos novos irmãos angolanos. E aqui se contam as almas bem intencionadas que voaram para Angola para colaborarem no novo país, a troco de ordenados baixíssimos, compensados pelo conforto da boa consciência.

O tempo passou, morreram milhares de pessoas e o Partido que os portugueses objectivamente apoiaram, na maior parte das vezes de uma forma execrável, promovendo alguns dos mais trágicos acontecimentos históricos que incluíram raptos, desaparecimentos e assassinatos e a situação evoluiu no sentido do mais forte. Savimbi foi morto como um varrasco em dia de festança e o seu legado, um Partido acomodado á nova ordem política, foi integrado o espectro político do novo país.

No fundo, nada desta história é muito diferente de muitas outras que fizeram a realidade africana. E Angola hoje percorre a senda de um país de sucesso, ainda que caldeado nas vicissitudes de um trajecto pouco recomendável. Nada de muito diferente de muitos outros países. E é aqui que verificamos que os portugueses têm uma oportunidade ímpar de beneficiar de parcerias estratégicas que poderão contribuir para um quadro de sucesso de assinalável abrangência. E aqueles que acham que devíamos ralhar muito com os angolanos e estabelecer um quadro de exigências que não teriam, hoje e ainda, qualquer cabimento na realidade do país, só mostram não ter um conhecimento adequado das realidades africanas e, por outro lado, esquecer ou escamotear as graves responsabilidades que tivemos no desenvolvimento do processo do nascimento de um novo país, passando por cima de um módico de ética minimamente desejável e do respeito por aqueles que eram designados pejorativamente por colonialistas e, mais tarde, retornados. Esse, sim, Parece-me o erro de base e a grande malfeitoria histórica. Foi ter entregue o poder a um grupo de marionetas dos próceres da União Soviética, sem qualquer representatividade no terreno que não fosse uma alegada retaguarda intelectual. E o resultado viu-se. Milhares de mortes, prisões, purgas, exílios, fugas e centenas de milhares de portugueses obrigados a refazer a sua vida pelos cinco cantos do Mundo.

Concomitantemente, era bom que aqueles que hoje acham que devíamos ralhar muito com Eduardo dos Santos, percebessem que, a ser assim, teríamos que ralhar com muita gente neste mundo, a começar por nós próprios. E deitar mão do pragmatismo próprio destas situações para que o maior número de pessoas possa beneficiar das imensas possibilidades que aquele país oferece. Sobretudo agora que o MPLA parece empenhado num esforço genuíno para colocar o seu país num quadro democrático. E quanto a corrupção… era bom que arrumássemos a nossa casa primeiro, antes de desatarmos a falar mal dos vizinhos. Ah! E valorizar um pouco mais a noção do ridículo.

Veja aqui alguns dos projectos em curso em Luanda
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