segunda-feira, maio 05, 2008

Inglesa, rica, aristocrata, rebelde, modelo, bonita e cansada da confusão...


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Não era pobre nem francesa, sequer. De origem aristocrática e após bolandas várias por muitos colégios ingleses foi parar a Paris, onde foi apanhada pelo Maio. No ajuntamento de rua, cansada, aceitou uma boleia aos ombros de um companheiro que lhe pediu para segurar uma bandeira do Vietname, país que, provavelmente, lhe era tão estranho como longínquo, apesar de Caroline ter andado pelo “Estates”, também, e ter uma vaga ideia do conflito que envolvia os americanos. Mas a utopia da época ordenava que segurar uma bandeira do Vietname era um sinónimo de liberdade. Carolina não sabia porquê, mas segurou na bandeira e transformou-se, sem querer, nem reparar (só mais tarde teve consciência disso através da imprensa), num dos mais emblemáticos registos iconográficos da época. Hoje, envelhecida e rendida à burguesia, apesar de pobretana, sorri de como tudo aconteceu.

Muita gente viveu, como Caroline, a utopia do Maio de 68 em Paris. Não viria daí muito mal ao mundo se tudo se tivesse tornado num registo meramente histórico. A questão é que muitos “soixantehuitardes” cultivaram os filhos à sua imagem e semelhança, obrigando-os a macaquear as suas próprias idiossincrasias. O resultado traduziu-se na utopia dentro da utopia, as coisas hoje não fazem o sentido que fizeram à época e os filhos das "Carolines" parisienses entremearam-se nas múltiplas vertentes da sociedade actual. Uns sentiram-se párias políticos, outros mantêm a militância herdada, sem saberem bem porquê ou apenas porque isso lhes conforta o ego caldeado por ódios e despeitos que nem eles próprios conseguem entender.

Nota: Já depois deste pequeno post, descobri, via Miss Pearls, este excelente texto do Pedro Mexia no Público. Estive quase para anular o post por força da qualidade do texto do Pedro, mas acabei por deixar ficar. Afinal, eu não sou o Pedro.

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