segunda-feira, janeiro 01, 2007

Os pidezinhos, versão pós moderna


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Por acaso conheci a Pide. Nunca me bateram, mas conheci-a. Daí que sinta ter de recorrer a alguma paciência de cada vez que deparo com referências àquela polícia, sobretudo quando elas desvirtuam algumas das suas (dela) características. Por exemplo, na polémica estalada entre
Paulo Gorjão e JPH, aquele é acusado de pidezinho.

Tanto quanto me apercebi, esta acusação remete para a condição de bufo. Bufar era coisa que a Pide usava bem, apesar de, frequentemente, os bufos não pertencerem à Pide. E num país como o nosso, pequenino e invejoso, o mais fácil era encontrar bufos, pelo que a Pide tinha, aí, a vida facilitada. Sei mesmo de casos de gente que se reclamava combatente do regime mas que não hesitava em bufar, desde que daí viesse algum benefício para a força política que representava, ou mesmo pessoal. O costume, afinal. Para além de bufarem, havia uma outra característica, essa sim, circunscrita ao pide militante e assalariado que era a de agradar ao patrão. E aqui, voltamos à tal polémica entre
Paulo Gorjão e JPH. É que é flagrante a verrina com que JPH deixa no ar a ideia de Palo Gorjão não arranja emprego em jornais porque não consegue (típico, típico). Por outro lado, se há jornal onde existe um grupinho de gente atenta, veneradora e obrigada em relação ao governo que temos é, exactamente, o Diário de Notícias. Porque é do Diário de Notícias que se trata. Dos editoriais aos artigos de opinião, passando pela simples construção das notícias (não sei se construção está bem aplicado, mas não sou jornalista…) é tudo pela nação e pelo governo pelo jornal e nada contra a nação e o governo o jornalinho que nos paga o trabalhinho ao fim do mês e, com sorte, nos lança para voos mais importantes. Se isto não é ser pidezinho, então as pessoas já andam esquecidas.

Acresce que muitos dos comentadores, analistas e redactores do DN exsudam aquela arrogância própria de quem está na mó de cima. Tudo muito típico, claro. Pois sabe-se que poucas coisas existem mais insuportáveis que um portuguesinho (já que estamos em maré de diminutivos) na mó de cima. E é exactamente o que se passa no DN. E, também, nos blogues que alguns deles alimentam. Mas isto digo eu, que não sou jornalista. Mas também não conheço o
Paulo Gorjão de lado nenhum e, muito menos, ele precisará que eu o defenda. Já fazer este reparo relativamente ao grupinho de profissionais atentos do DN me parece ser uma obrigação cívica. E mais não digo senão ainda me arrisco a que JMF, plural, me cite no DN e eu fique “em obrigação”.