Homens exímios
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É curioso como cada vez há mais homens que cozinham. E, suponho, gostam de cozinhar. Ainda ontem fui convidado para jantar em casa de amigos e “ele” vai para a cozinha, coloca um avental a preceito (escuro) e procede um fantástico conjunto de operações dignas de um verdadeiro chef. Os ingredientes alinhados numa pequena mesa, desde a vulgar cebola às especiarias mais requintadas, as alfaias, constando estas de facas de vários tamanhos e formatos, colheres de pau, garfos compridos, curtos, pauzinhos e outros apetrechos que se eu os visse numa montra de uma loja julgaria tratarem-se de algum estojo de unhas ou ferramentas domésticas. Os ingredientes nobres (no caso, carnes) também já devidamente expostos e aguardando o sacrifício do esquartejamento.
Posto isto, passou-se à operação propriamente dita. Operação meticulosa, absolutamente cirúrgica, desde o corte de legumes à la american movie (aquelas facas enormes tac tac tac tac tac a cortarem as coisas em cadência acelerada e sem apanhar nenhum dedo…) ao tratamento das carnes, cortadas e preparadas apenas depois de serem rigorosamente observadas, estudadas, sopesadas. Os molhos e estrugidos a surgirem também do nada, tudo isto sem cheiros horríveis e, milagre, sem uma casca perdida, uma nódoa de gordura, tudo parecendo mais uma sala de assepsia de instrumentos cirúrgicos do que uma cozinha.
É necessário esclarecer que este meu amigo não é cozinheiro e nunca aprendeu a cozinhar e consulta uma ou outra receita de culinária apenas quando a sua riquíssima imaginação lhe coloca dúvidas de pormenor. Cozinha porque gosta, porque aprecia a boa gastronomia, cultiva o bom gosto e, sobretudo, cozinha porque sim. Ele trabalha com empresas, pessoas, números, mercados e toda aquela parafernália de coisas que, não sabendo a nada, provocam, frequentemente, azia.
A mulher, claro, é a felicidade com pernas. Move-se pela sala, fala com os amigos, solta, bem disposta, simpática e hospitaleira e com aquela expressão de confiança de que daí a pouco o jantar está pronto e toda a gente vai gostar.
Nota final: Cheguei a casa e num impulso inexplicável e irreprimível, arrumei a despensa. Alinhei os frasquinhos nem sei de quê, dois saquinhos de arroz cigala que estavam a monte no meio de meia dúzia de pacotes de esparguete e delimitei uma zona específica e classificada para as latinhas da comida das gatas. Concluída esta operação de boa vontade, olhei e pareceu-me tudo na mesma. Fui-me deitar com a satisfação de que pelo menos tentei e com a certeza de a despensa ter ficado na mesma. Lá dizia a minha avozinha: - cada um é para o que nasce…
8 Comments:
Eheheh... sabe que esse seu amigo é a minha 'cara'...? Tb gosto de cozinhar e, modéstia à parte, bem! Já deixei de parte a cozinha de fusão e ando numa de recuperar a de autor :))
Numa primeira fase, no meu caso, teve a ver com a necessidade (sair de casa, de país e etc e tal); numa segunda, como uma forma de escape ao corrupio urbano. Experimente e vai sentir-se outro :)))
(Cozinhar não é incompatível com actividades mais viris, como jogar à bola, andar de bicicleta :) ou praticar ténis, mas é uma das poucas formas que tenho de, por vezes, ajudar em casa...)
Abraço
Valeu a intenção!
Eu há dias também tive a sorte de ser assim recebida pelo homem da casa. Não fosse ele meu irmão, ainda o tentava assediar...
Votos de um feliz 2007!!!
Beijinhos
joãog
Longe de mim questionar sequer a virilidade de cozinhar (sei mesmo de algumas histórias interessantes/picantes que acabam na mesa da cozinha :))) e ocorre-me aquele filme francês com o Philipe Noiret, Marcello Mastroianni, Alberto Sordi e um outro actor de excelência que não me ocorre agora, um grupo de amigos que resolve suicidar-se comendo e em que um deles, a páginas tantas, amassa a massa de uma tarte com a massa < bundiforme de uma mulher que entretanto se lhes junta. A coisa acaba bem, a massa bem amassada, a senhora consolada e o homem cheio de fome...). O filme correu poucos anos depois do 25 de Abril e chamava-se "La grande bouffe" :))))
E aqui está como uma coisa não empata a outra e espero que não lhe passe pela cabeça que por um momento que fosse eu duvidasse da virilidadd de quem cozinha :)
Quanto ao mais... remeto-o para a tal minha avozinha.
Mas deixe-me manifestar a minha admiração por aqueles que cozinham.
Um grande abraço para si.
Lurdes
Se o assédio de uma mulher estiver na razão directa da arte da cozinha, vou ali comprar o livro da Maria de Lurdes Modesto. E depois logo se vê...
:))))
Boas entradas
Pois eu gosto muito de cozinhar e modéstia à parte sou bom cozinheiro, especialmente nos pratos da cozinha tradicional portuguesa, do tipo cabrito assado no forno, feijoada à transmontana, frango à paneleiro, arroz de pato etc.
Por outro lado, a minha vida profissional e não só, levou-me a conhecer dezenas de países e como é lógico a sua arte culinária, por isso também faço alguns petiscos exóticos.
Deixemos de lado os sabores.
Desejo-te um Ano 2007 repleto de saúde, amor, alegria e muita Paz.
Que seja o Ano de todas as tuas realizações pessoais.
Um abraço...até ao próximo ano.
Cosinhar para os amigos, com alegria, e pondo AMOR nessa tarefa,
É UM PRAZER
Arrumar a despensa... é muito chato, mas ajuda quando procuramos algo.
QUE O ANO 2007
TRAGA MUITA PAZ,SAÚDE E MUITO AMOR.
P.S. Os Grandes Cosinheiros são normalmente Homens
maricel
armando s. sousa
Tive a sorte, também, de conhecer vários países por razões profissionais, o que me possibilitou o conhecimento de vários sabores e saberes :)
Agradeço e retribuo os votos. Tudo de bom, também.
Maricel
Agora que as mulheres vão dominando o mundo, é bom que algumas coisas permaneçam com o toque mascuino, como a cozinha :))
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