Estar com os azeites
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A inextricabilidade da expressão «estar com os azeites» só é comparável ao «tempo da Maria Cachucha». Mas a Maria Cachucha, enfim, deve ser alguém de provecta idade, já que ser «do tempo da Maria Cachucha» nos remete de imediato para matérias antigas ou, no mínimo, desactualizadas. De qualquer maneira, não consta dos meus conhecimentos nem creio que conste da letra de qualquer canção, enredo de novela ou lenda regional nenhuma Maria Cachucha. Não sabemos se a Maria Cachucha era peixeira (venderia cachuchos?), se era daquelas pessoas que andam de casa em casa a vender joalharia mais cara que nas joalharias e às quais os compradores ainda ficam atentos veneradores e obrigados (a vender anéis/cachuchos, portanto) ou se era apenas uma moçoila rupestre e estouvada tipo «Maria vai com as outras» ou, mais apropriadamente, Maria vai com os «outros», num qualquer dia da espiga de verão ou mesmo em dias sem espiga nenhuma. Há, porém, um certo fio de jogo, alguma identidade de histórias e personagens quando se usa o termo Maria Cachucha.
Agora o termo «estar com os azeites» é que não dá com nada. Em princípio, estar com os azeites é estar zangado, neura ou irritado. Pergunto eu: - Porquê azeites? Um líquido balsâmico, suave ao tacto, cheio de virtudes químicas, físicas e organolépticas, operador de milagres na saúde humana, dieta eleita (porque rica em aminoácidos e polinsaturados), combustível, comburente, de fino paladar e tecnologia fácil e barata, porque terá um líquido assim de estar associado a um período de mal estar? Porque não, «estar com os vinagres», «estar com os óleos alimentares», estar com maionese de supermercado», estar com qualquer coisa realmente desagradável, em vez de estar com os azeites?
Este arrazoado vem a propósito de duas amigas minhas que cirandam aqui pela blogoesfera estarem com os azeites… Pelo menos assim o dizem. Que eu não linco em obediência ao mais estrito sentido de reserva de privacidade. E se uma mulher bonita em estando com os azeites até feia consegue ser, imaginem o que é uma mulher com graça no que posta ou comenta estar com os azeites. Não tem graça. E a única virtude que terá é, mesmo, dar-me o mote para fazer um post.
Mesmo andando com os azeites, como ando...
A inextricabilidade da expressão «estar com os azeites» só é comparável ao «tempo da Maria Cachucha». Mas a Maria Cachucha, enfim, deve ser alguém de provecta idade, já que ser «do tempo da Maria Cachucha» nos remete de imediato para matérias antigas ou, no mínimo, desactualizadas. De qualquer maneira, não consta dos meus conhecimentos nem creio que conste da letra de qualquer canção, enredo de novela ou lenda regional nenhuma Maria Cachucha. Não sabemos se a Maria Cachucha era peixeira (venderia cachuchos?), se era daquelas pessoas que andam de casa em casa a vender joalharia mais cara que nas joalharias e às quais os compradores ainda ficam atentos veneradores e obrigados (a vender anéis/cachuchos, portanto) ou se era apenas uma moçoila rupestre e estouvada tipo «Maria vai com as outras» ou, mais apropriadamente, Maria vai com os «outros», num qualquer dia da espiga de verão ou mesmo em dias sem espiga nenhuma. Há, porém, um certo fio de jogo, alguma identidade de histórias e personagens quando se usa o termo Maria Cachucha.
Agora o termo «estar com os azeites» é que não dá com nada. Em princípio, estar com os azeites é estar zangado, neura ou irritado. Pergunto eu: - Porquê azeites? Um líquido balsâmico, suave ao tacto, cheio de virtudes químicas, físicas e organolépticas, operador de milagres na saúde humana, dieta eleita (porque rica em aminoácidos e polinsaturados), combustível, comburente, de fino paladar e tecnologia fácil e barata, porque terá um líquido assim de estar associado a um período de mal estar? Porque não, «estar com os vinagres», «estar com os óleos alimentares», estar com maionese de supermercado», estar com qualquer coisa realmente desagradável, em vez de estar com os azeites?
Este arrazoado vem a propósito de duas amigas minhas que cirandam aqui pela blogoesfera estarem com os azeites… Pelo menos assim o dizem. Que eu não linco em obediência ao mais estrito sentido de reserva de privacidade. E se uma mulher bonita em estando com os azeites até feia consegue ser, imaginem o que é uma mulher com graça no que posta ou comenta estar com os azeites. Não tem graça. E a única virtude que terá é, mesmo, dar-me o mote para fazer um post.
Mesmo andando com os azeites, como ando...
14 Comments:
Espumante,
No que respeita à Maria Cachucha, sempre a identifiquei com o tempo dos velhos e bons filmes portugueses a preto e branco. Portanto, ser do tempo da Maria Cachucha, para mim, é ser do tempo do António Silva, do Vasco Santana, da Beatriz Costa e tantos outros...
Quanto à expressão "estar com os azeites", queres saber a melhor?
Encontrei isto nas Ciberdúvidas da Língua Portuguesa:
"Estar com os azeites («estar irritado», «mal-humorado», «arreliado», «zangado», «furioso», «irado») tem como sinónimas as expressões estar com os vinagres, estar com o avental do avesso, andar/estar com os burros, estar com a cachorra, estar de catrâmbias, etc."
Não é fantástico?...
By the way, adorei o teu post!
E já não estou com o avental do avesso!
Beijola
Espumante com azeites? Mas isso dá uma mixórdia LOL
IL
Espumante
Eu não sei a origem da expressão, mas, em pequena, a minha avó fazia-me engolir, em jejum, uma vez por mês, uma colher de sopa bem cheia de azeite.
Não achava lá muita graça, embora goste, e muito, de azeite.
Mas depois de ler o teu texto, ninguém, ninguém mesmo, pode "estar com os azeites".
Beijinhos
Carlota
Estou de acordo com o que dizes mas no fundo estamos na mesma. Eu faço as mesmas assosiações que tu relativamente à Maria Cachucha mas nunca nesses filmes se diz que ela é... :) Já quanto aos azeites eu tembém conheço o significado da coisa e muitas outras definições fazem sentido, como os vinagres, o avental do avesso, estar com os burros ou com a cachorra, tudo faz sentido, e há mais, estar de candeias às avessas, de maus fígados, estar com a bolha, etc mas... com os azeites? Porquê os azeites????
:)))
Beijola
IL
Mas eu SOU uma mixórdia :))
Laura Lara
A mim era mais óleo de fígado de bacalhau, não conhecia essa de dar azeite aos filhos :)))
Beijinho para ti e pela tua (habitual) gentileza
Carlota
Só mais uma coisa
Fico satisfeito de já não andares com o avental do avesso e obrigado pela tua simpatia e comentários
Espumante
Acho que o azeite funcionava como purgante.
Beijinhos
Caro espumante,
creio poder dar uma ajudinha quanto à Maria Cachucha, pois segundo me informaram e fruto das minhas aturadas buscas, decorre que a tal Maria nasceu no tempo do arroz de quinze, e que era da parentela da Maria Nabiça, a tal que tudo vê e tudo cobiça.
Segundo afirmam as minhas fontes, ambas eram umas cabeças de alho chocho, que primavam por chorar lágrimas de crocodilo quando tentavam comer as papas na cabeça a alguém.
Posto isto, e como a procissão ainda vai no adro, dediquei-me também à outra expressão, a tal dos azeites, que poderá vir de estar em companhia de azeiteiros, que dada a oleosidade do produto não seriam boa companhia para roupitas mais arrumadas, ou se levarmos a interpretação de azeiteiros para um outro tipo de profissionais, a companhia e a disposição azedar-se-ão e será pior a emenda que o soneto.
Mas isto sou eu a dar água sem caneco, pois posso ter comprado gato por lebre e estar afinal a meter água.
Bem, agora que já gastei algum do meu latim, dá-me a impressão que estou aqui estou a comer com alguma posta restante que me deixará a ver navios.
E por aqui me fico, com amizade e um abraço tripeiro
teófilo m
Este seu comentário não é comentário. É um post. E um post brilhante...
:)
está á espera de quê para o pôr em letra de forma?
Um abraço e obrigado pelo brilho que deu ao meu post com o seu comentário.
Tem graça, tenho uma amiga que se sai de vez em quando com um "já estou a ficar azeitada!" - e todos sabemos que o melhor é não esticar muito a corda a partir do momento em que ela solta esse aviso!... Mas sempre pensámos que era uma expressão nortenha. Afinal, do Norte ao Sul, o País azeita-se de igual maneira!
:)
Sinapse
Digamos que é uma expressão nacional :))
Já agora... porquê sinapse?
:)
Gostei da pergunta! Passa pelo Postais - tentei explicar ... :)
Quando se sabe escrever sabe-se e prontos! Adorei ter servido (eu não, a expressão que eu usei) de mote para este post.
Beijinhos
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