Terms of endearment
[2906]
Ao aterrarmos em Lisboa, e depois de passada aquela sensação estranha de termos lido algures e há dias que há milhares de pombos e pombais nos bairros limítrofes do aeroporto da Portela e, ao que parece, toda a gente achar isso muito natural, incluindo um columbófilo que afirmou que os pombos não voam para lá das pistas, entramos na gare com a sensação de quem se aventura num pavilhão de infecto-contagiosas de um qualquer hospital surrado pelo tempo e cheio de bactérias. O ambiente é nebuloso e consolida-se o sentimento de que se vive na generalidade de um ambiente de suspeição, sobretudo desde que se fala nas, alegadas, travessuras de Sócrates. No que me diz respeito, a primeira inquietação vai para o facto de me interrogar se com tanto processo, busca, mandatos e suspeitas, declarações e conferências de imprensa sobre a mais velha de todas as fraquezas do homem, como sejam a corrupção e a vaidade, interrogava-me eu se com o tempo tomado por estas questões sobra algum para alguém governar a paróquia. As finanças, a saúde, a educação, a justiça, as obras públicas, o emprego e outras minudências essenciais para a nossa manutenção como país e lançamento dos naturais alicerces de subsistência para os nossos filhos e netos como nação, pobrete e alegrete que seja, mas suficientemente credível para se manter integrada no concerto das nações onde nos situamos e queremos permanecer.
Os desenvolvimentos recentes sobre o caso Freeport são um bom exemplo do que acabei de dizer. Ele é tios, filhos dos tios (vulgarmente designados por primos mas aqui, curiosamente, não é bem o caso), off-shores, comissões, despachos, retiros espirituais no Nepal, empresas que vivem dois meses aparentemente só para mandar mails, advogados que receberam dinheiro não se sabe bem para quê e, aparentemente, ninguém tem nada com isso, resmas de documentos com carimbos gigantes de “urgente”, entrevistas à boca de carros de alta cilindrada (esta do carros de alta cilindrada é uma expressão que aprendi com a comunicação social), respostas evasivas e arrogantes, ingleses com mais aptidão para mimos do que oradores, países que suspeitam do nosso primeiro-ministro, enfim, um quadro exemplar de um país pífio onde tudo acontece, uns quantos se abotoam, alegadamente, não esqueçamos, com uns trocos e a procissão de prós e contras decorre na comunicação social, incluindo os blogues. Ninguém se entende, muitos começam a experimentar um genuíno sentimento de vergonha e uns quantos provavelmente ficarão a rir e a delinear a “chico-espertice” que se segue. Basta que se tenha um tio, um primo, um filho de tio, um padrinho ou mesmo que se ande a dormir com alguém casado com alguém que conhece um primo de um motorista de um senhor que se dá bem com uma senhora casada com um enteado de uma senhora casada em segundas núpcias com… alguém que possa dar uma mãozinha em qualquer coisa.
Ao aterrarmos em Lisboa, e depois de passada aquela sensação estranha de termos lido algures e há dias que há milhares de pombos e pombais nos bairros limítrofes do aeroporto da Portela e, ao que parece, toda a gente achar isso muito natural, incluindo um columbófilo que afirmou que os pombos não voam para lá das pistas, entramos na gare com a sensação de quem se aventura num pavilhão de infecto-contagiosas de um qualquer hospital surrado pelo tempo e cheio de bactérias. O ambiente é nebuloso e consolida-se o sentimento de que se vive na generalidade de um ambiente de suspeição, sobretudo desde que se fala nas, alegadas, travessuras de Sócrates. No que me diz respeito, a primeira inquietação vai para o facto de me interrogar se com tanto processo, busca, mandatos e suspeitas, declarações e conferências de imprensa sobre a mais velha de todas as fraquezas do homem, como sejam a corrupção e a vaidade, interrogava-me eu se com o tempo tomado por estas questões sobra algum para alguém governar a paróquia. As finanças, a saúde, a educação, a justiça, as obras públicas, o emprego e outras minudências essenciais para a nossa manutenção como país e lançamento dos naturais alicerces de subsistência para os nossos filhos e netos como nação, pobrete e alegrete que seja, mas suficientemente credível para se manter integrada no concerto das nações onde nos situamos e queremos permanecer.
Os desenvolvimentos recentes sobre o caso Freeport são um bom exemplo do que acabei de dizer. Ele é tios, filhos dos tios (vulgarmente designados por primos mas aqui, curiosamente, não é bem o caso), off-shores, comissões, despachos, retiros espirituais no Nepal, empresas que vivem dois meses aparentemente só para mandar mails, advogados que receberam dinheiro não se sabe bem para quê e, aparentemente, ninguém tem nada com isso, resmas de documentos com carimbos gigantes de “urgente”, entrevistas à boca de carros de alta cilindrada (esta do carros de alta cilindrada é uma expressão que aprendi com a comunicação social), respostas evasivas e arrogantes, ingleses com mais aptidão para mimos do que oradores, países que suspeitam do nosso primeiro-ministro, enfim, um quadro exemplar de um país pífio onde tudo acontece, uns quantos se abotoam, alegadamente, não esqueçamos, com uns trocos e a procissão de prós e contras decorre na comunicação social, incluindo os blogues. Ninguém se entende, muitos começam a experimentar um genuíno sentimento de vergonha e uns quantos provavelmente ficarão a rir e a delinear a “chico-espertice” que se segue. Basta que se tenha um tio, um primo, um filho de tio, um padrinho ou mesmo que se ande a dormir com alguém casado com alguém que conhece um primo de um motorista de um senhor que se dá bem com uma senhora casada com um enteado de uma senhora casada em segundas núpcias com… alguém que possa dar uma mãozinha em qualquer coisa.
Dando de barato que de santinhos está o inferno cheio, convenhamos que a nebulosidade do momento excede os limites do razoável. Voltando ao caso Freeport, porque é o que está na berra, esperemos mesmo que alguma coisa se apure, para o bem ou para o mal daquele que, ou muito me engano ou ainda virá a consolidar a sua maioria absoluta. Basta que nada se prove e ele se arme em vítima por mais uma cabala e debite a algaraviada do costume contra o PSD. No fundo, qualquer coisa parecida com os tabefes que Mário Soares apanhou na Marinha Grande e lhe valeu a vitória nas presidenciais. Uma cabala bem urdida pela “reacção”, não restam dúvidas.
.
Etiquetas: Lugar mal frequentado
15 Comments:
podes explicar o caso freeport às criancinhas? (o que equivale a dizer aos emigras que não percebem nada do que se está a passar e para quem as notícias do público não conseguem explicar nada...
Não devia, eu sei, mas este post fez-me rir.
Ó descrição mai linda do nosso cantinho à beira mar plantado!
Beijinhos
ps- e ainda bem que os pombos não voam pra lá das pistas... ahahhahah
Por acaso ouvi essa dos pombos e dos pombais. Um criador de bigode e lembro-me bem do homem dizer que os pombos só voavam "pra cá das pistas". Este país é um poema :D
Estamos fartos de Freeports " escândalos ligando os políticos a interesses privados, notícias do género ocorrem com frequência neste país. Mas neste caso, as autoridades inglesas terão gravações em DVD incriminatórias que não são válidas em Portugal porque não terão sido conseguidas por ordem de um juiz". Ah! mas também é preciso que a imparcialidade do juiz não possa ser posta em causa senão mesmo assim essas provas também acabam por ser invalidadas A LEGALIDADE PREVALECE SOBRE A VERDADE. Os crimes que envolvam figuras poderosas explorem todas estas possibilidades de defesa, fazem os julgamentos demorar muitos anos, os quais acabam frequentemente por prescrever ou não chegam a conclusão alguma.
Estas leis foram feitas não para proteger o cidadão honesto e cumpridor que não tem receio de ser investigado, mas interesses obscuros a que o financiamento de certos partidos não deve ser alheio.
Zé da Burra o Alentejano
já lá deixei o que me tem acontecido no continente para que outros se possam precaver devidamente. Estou seguro que eu como o NR não cairemos tão tarde numa destas!
Eu também gostava que este País fosse diferente, mais sério, mais educado, mais limpo, com pombos que soubessem usar os WC e não despejassem os dejectos por todo o lado, com gente sorridente e satisfeita, mesmo que não fosse muito rica, que houvesse educação, bons hospitais, médicos competentes e simpáticos, centros de dia confortáveis e em quantidade, jornalistas sérios e independentes, trabalho para quem quisesse trabalhar, governantes competentes, professores com vocação, polícias sempre à mão, juízes isentos e sensatos, homens que não maltratassem mulheres, mulheres que não maltratassem homens, crianças felizes e bem alimentadas, patrões respeitadores, sindicatos lutadores, fortes e razoáveis, impostos pagos por todos, segurança no trabalho,...
é melhor para por aqui!
Faço meu o comentário da Spring! aliás, também fizemos tandem na caixa de comentários do Lote 5! lol!
... e acrescento o meu susto ao saber dessa história dos pombos ...
springhasasister
É uma história bizarra de suspeita de corrupção para a qual Sócrates argumenta com cabalas, campanhas negras, potências ocultas and the like :))) Mas dá uma volta pelos blogs e percebes melhor. Basicamente uns ingleses quiseram abrir um outlet em Alcochete no tempo em que Sócrates era min. do ambiente. Os chumbos sucederam-se por causa da reserva matural do Tejo, um inglês queixou-se a um mr. Fixman que happened to be tio do Sócrates. O tio terá dito aos ingleses que would fix a meeting com o sobrinho. E "fixou". Horas depois da erunião a licença estava garantida. Há suspeitas desde 2005, mas tudo foi down the drain, Agora a polícia inglesa mandou uma carta rogatória ao ministério público português dizendo que Sócrates era suspeito de ter facilitado ou recebido luvas pelo licenciamento. Basicamente a história é esta. Depois há pormenores lúdicos como um filho do tio que abriu uma empresa por dois meses para enviar os mails. Chamava-se a empresa Neurónio Activo e esse filho do tio está agora, coincidentemente, no Nepal em retiro espiritual (SIC). Sócrates entretanto entrou na gritaria dizendo que é uma cabala, e que há potências ocultas por detrás. E muita insídia. A imprensa, muito amiga do PS por razões que me escapam, faz piruetas continuadas para salvar a face da socrática criatura e assim vai o mundo . Pelo menos o português. É mais ou memos isto. Mas há pormenores deliciosos. Para isso, consulta os blogs OK?
:)
Lurdes
Aterro agora, muito mais descansado. Bastou-me ouvir aquele columbófilo de bigode dizer que os pombos só voam para o outro lado.
:)))
IL
Reparaste no bigode, pelo que vejo
:))))
Zédaburra O Alentejano
Apareça sempre para desabafar
:)
João Maria Condeixa
Já fui lá reler os perigos :))))
Quem sabe não irei às compras amanhã
:)
Teófilo M.
Tudo gostos genuinos, meu caro. Pena que se estejam a tornar tão difíceis...
Sinapse
Já dei uma pequena explicação à Spring que podes ler lá em cima. Aliás, ambas têm direito a post hoje :)))
Beijinho
Olha ... só agora vi que a resposta se encontrava nesta caixa de comentários! Ora essa!
Enviar um comentário
<< Home