Orelhas de burro - já
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Há muito tempo que eu não era corrigido. Não sei se é bom se é mau, mas lembro-me de ser frequentemente corrigido pelo meu pai. Ele era de um rigor extremo no domínio das letras e dizia-me frequentemente: - Meu filho, nunca te esqueças, fala sempre alto, claro e bom som, Foi uma frase que nunca se me escapou e que foi importantíssima para mim. Como aliás muitas outras coisas que herdei do meu pai.
O que parecia um exercício minucioso e quiçá exacerbado de rigor, falar alto, claro e bom som mais não era que a expressão doméstica do conhecido loud and clear que os anglo-saxónicos ainda hoje usam, e com toda a propriedade, e revelou-se de uma enorme importância para mim. Porque aprendi que a expressão oral, a forma como dominamos o discurso e manejamos a palavra com a permanente preocupação de sermos entendidos é uma das mais poderosas armas com que equipamos o “pacote” que temos para oferecer de nós à sociedade. Para além de que acaba por ser um inestimável factor de cultura. A oralidade “É” uma expressão de cultura e não nasce com as pessoas. Cultiva-se, educa-se e usa-se.
A escrever é a mesma coisa. Apresentar bem as ideias, dar um esqueleto racional a tudo o que dizemos e, sobretudo, escrever sem erros de ortografia é um bem precioso. Não devia ser, deveria ser uma coisa natural, corriqueira, mas nós sabemos bem os exemplos que temos na paróquia. Uma educação deficiente e uma qualquer circunstância que eu deixei de tentar perceber fizeram com que os portugueses sejam absoluta e frequentemente ininteligíveis. Basta estar atento e reparar no discurso de um oficial da polícia a dar notícias sobre trânsito, um autarca a ser entrevistado na televisão, um deputado a debitar as vacuidades do costume, mesmo alguns professores (sacrilégio...) a comentarem uma qualquer medida do Ministério da Educação e as próprias criancinhas que já em pequeninas revelam aquilo que virão a ser – mudas e quedas, sem fio de conversa, monossilábicas e oralmente trôpegas. O grave é que ninguém parece reparar, mesmo quando elas respondem invariavelmente siiiiim ou nããããõ a qualquer pergunta.
E não é uma questão de cultura. Há povos analfabetos africanos com uma notável desenvoltura de expressão, qualquer futebolista brasileiro quase analfabeto se expressa com facilidade, graça, clareza e objectividade, mesmo quando dá erros. Mas nós… há com certeza qualquer coisa que faz com que cada um de nós, a falar, seja um completo desastre – agravado se por acaso estivermos a falar para uma rádio ou uma televisão.
Bom… mas isto vinha a propósito de quê? Nem sei… comecei para aqui a falar de rigor, de escrever sem erros e já nem me lembro porquê. De qualquer maneira, minha querida amiga, muito obrigado pelo reparo. E o template está corrigido.
E cai o pano, que estou corado de vergonha.
Há muito tempo que eu não era corrigido. Não sei se é bom se é mau, mas lembro-me de ser frequentemente corrigido pelo meu pai. Ele era de um rigor extremo no domínio das letras e dizia-me frequentemente: - Meu filho, nunca te esqueças, fala sempre alto, claro e bom som, Foi uma frase que nunca se me escapou e que foi importantíssima para mim. Como aliás muitas outras coisas que herdei do meu pai.
O que parecia um exercício minucioso e quiçá exacerbado de rigor, falar alto, claro e bom som mais não era que a expressão doméstica do conhecido loud and clear que os anglo-saxónicos ainda hoje usam, e com toda a propriedade, e revelou-se de uma enorme importância para mim. Porque aprendi que a expressão oral, a forma como dominamos o discurso e manejamos a palavra com a permanente preocupação de sermos entendidos é uma das mais poderosas armas com que equipamos o “pacote” que temos para oferecer de nós à sociedade. Para além de que acaba por ser um inestimável factor de cultura. A oralidade “É” uma expressão de cultura e não nasce com as pessoas. Cultiva-se, educa-se e usa-se.
A escrever é a mesma coisa. Apresentar bem as ideias, dar um esqueleto racional a tudo o que dizemos e, sobretudo, escrever sem erros de ortografia é um bem precioso. Não devia ser, deveria ser uma coisa natural, corriqueira, mas nós sabemos bem os exemplos que temos na paróquia. Uma educação deficiente e uma qualquer circunstância que eu deixei de tentar perceber fizeram com que os portugueses sejam absoluta e frequentemente ininteligíveis. Basta estar atento e reparar no discurso de um oficial da polícia a dar notícias sobre trânsito, um autarca a ser entrevistado na televisão, um deputado a debitar as vacuidades do costume, mesmo alguns professores (sacrilégio...) a comentarem uma qualquer medida do Ministério da Educação e as próprias criancinhas que já em pequeninas revelam aquilo que virão a ser – mudas e quedas, sem fio de conversa, monossilábicas e oralmente trôpegas. O grave é que ninguém parece reparar, mesmo quando elas respondem invariavelmente siiiiim ou nããããõ a qualquer pergunta.
E não é uma questão de cultura. Há povos analfabetos africanos com uma notável desenvoltura de expressão, qualquer futebolista brasileiro quase analfabeto se expressa com facilidade, graça, clareza e objectividade, mesmo quando dá erros. Mas nós… há com certeza qualquer coisa que faz com que cada um de nós, a falar, seja um completo desastre – agravado se por acaso estivermos a falar para uma rádio ou uma televisão.
Bom… mas isto vinha a propósito de quê? Nem sei… comecei para aqui a falar de rigor, de escrever sem erros e já nem me lembro porquê. De qualquer maneira, minha querida amiga, muito obrigado pelo reparo. E o template está corrigido.
E cai o pano, que estou corado de vergonha.
6 Comments:
Espumante
A ideia não era esta!
Se há pessoa que escreve excepcionalmente bem e NÃO merece orelhas de burro és tu.
Agora fiquei encabulada, como dizem os brasileiros, e vou remeter-me ao meu "low profile" anglo-saxónico (que difícil isto do hífen...) e não dizer mais nada.
Mas adorei ler o texto.
Brilhante, como sempre.
Beijinhos
Laura Lara
E eu a dar...
I've just put the dash. There, where it should have been since the very beginning
:))
Beijinhos
Caramba, estava a ver que não via este dia acontecer! :)
mmicr
Aconteceu. Paraa teu gáudio :)))))
Beijinhos
Não sei lá que erro terás (ou ter-te-ão) corrigido, mas inspirou-te a um post brilhante. E concordo plenamente (acerca daquilo da expressão oral, dominar o discurso, manejar a palavra, fazer malabarismos e mágicas com o verbo) - é uma arma poderosa, por muitos subestimada!
Sinase
Eu digo. Era o auto-entretenimento do template que estava sem hífen e a Laura lara corrigiu-me e fez ela muito bem
:)
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