sexta-feira, julho 09, 2004

as tripas

Jorge Sampaio extremou a recente crise política, criada a partir da demissão de Durão Barroso. Uma decisão, que poderia e deveria ter sido natural e tomada em tempo útil, acabou por ser tomada após um longo período de aparente indecisão, consultas e a criação de uma campo fértil a dúvidas e clivagens sérias entre os portugueses, que continuam a ter um comportamento político do tipo de adepto de futebol. Tudo pelo clube, morte ao adversário (pelo menos uma canela partida). Não se percebe que outras razões poderiam estar na génese de tão prolongado período e de tão publicitada série de consultas, tal como não se percebe a razão porque Jorge Sampaio disse e repetiu, com ar dramático, "ser esta a decisão mais grave do seu mandato". Isto foi meio caminho andado para que os portugueses se dividissem, a oposição espingardasse e as posições se extremassem. Afinal e a avaliar pelo argumentário de Jorge Sampaio, a decisão era óbvia e pouco espaço havia para tamanho dramatismo. Ora o que Sampaio parece ter minimizado foi um elemento claríssimo, qual seja a de o comum cidadão pensar para os seus botões que se a decisão era assim tão grave e difícil para o Supremo Magistrado da Nação é porque a coisa era mesmo complicada e que a solução é capaz de não ser tão boa como isso. A verdade é que não se vislumbra bem que outras razões poderão existir na conduta de Sampaio que não seja a azia que lhe provocou ter de tomar uma decisão pela razão e pelo profundo respeito pelas normas institucionais (seria de esperar outra coisa do Presidente de todos os Portugueses?)em colisão estrepitosa com as suas convicções políticas e pela antipatia pessoal que o próximo primeiro ministro lhe suscita. Por outras palavras, Sampaio agiu na observância estrita da estabiliadde e do respeito pelas instituições democráticas, mas viu-se obrigado a contrariar, como diz o povo, o que lhe ia nas tripas. Acresce que criou expectativas na oposição e gerou reacções de genuina decepção nos sectores da oposição minimamente civilizados e de autêntico terrorismo e má educação (Fernando Rosas, por exemplo, que chegou a ser caricato e da inenarrável Ana Gomes, que foi ofensiva e insultuosa).