Deadly calm
[1079]
O dia hoje está estranhamente calmo. Pouco trânsito, pouca gente e até o bruáá da cidade neste recanto onde trabalho parece mais cavo e sonolento. O restaurante estava às moscas e almocei sozinho. Apenas outra mesa estava ocupada com um casal de idosos, ele calmo e aparentando resignação, ela loquaz e com aquele timbre de voz que se faz ouvir entre mil. Falavam, isto é, falava ela, do hábito de os portugueses cuspirem para o chão com garbo e com crista e que até ele próprio, marido resignado ali em frente, não cuspia para o chão mas ainda usava lenços de pano, quando hoje só se usa papel, dizia-lhe ela com olhar reprovador e descendo uma oitava ao tom da voz, como se estivesse envergonhada. Lancei um olhar solidário ao idoso enquanto tentava abstrair-me da imagem de um tuga garboso e encristado a lançar uma escarreta formidável, para poder meter um pedaço de galinha na boca em cenário minimamente higiénico.
Há-de haver uma razão qualquer para o dia estar calmo. Tanto quanto um homem idoso ouvir resignado a mulher falar de cuspo enquanto come, sem esboçar um movimento reactivo ou soltar uma palavra de desacordo. Aliás, há sempre uma razão para qualquer coisa. E se não há uma razão, tem de haver uma razão para não haver. Talvez quando o peso dos anos e a resignação calejada, como naquele homem idoso à minha frente já não exigem razão nenhuma e tudo é aceite como uma componente fatalista da vida que não precisa de razões para ser acomodada pelos resignados, tal qual ela é.
De volta ao escritório dei uma volta pelos blogues, li apenas os habituais e regressei à rotina dos telefonemas e das pessoas a baterem-me à porta, a perguntar se me interrompem. Interrompem quase sempre, mas hoje, como disse, tudo está mais calmo e julgo sentir uma vontade estranha e secreta de que me interrompam mais vezes. Porque há dias assim. Em que nos apetece ser interrompidos, em que precisamos de bulício, de movimento, de vida. E o dia hoje, estranhamente, está morto. Sem bulício, sem movimento e vida quase nenhuma.
O dia hoje está estranhamente calmo. Pouco trânsito, pouca gente e até o bruáá da cidade neste recanto onde trabalho parece mais cavo e sonolento. O restaurante estava às moscas e almocei sozinho. Apenas outra mesa estava ocupada com um casal de idosos, ele calmo e aparentando resignação, ela loquaz e com aquele timbre de voz que se faz ouvir entre mil. Falavam, isto é, falava ela, do hábito de os portugueses cuspirem para o chão com garbo e com crista e que até ele próprio, marido resignado ali em frente, não cuspia para o chão mas ainda usava lenços de pano, quando hoje só se usa papel, dizia-lhe ela com olhar reprovador e descendo uma oitava ao tom da voz, como se estivesse envergonhada. Lancei um olhar solidário ao idoso enquanto tentava abstrair-me da imagem de um tuga garboso e encristado a lançar uma escarreta formidável, para poder meter um pedaço de galinha na boca em cenário minimamente higiénico.
Há-de haver uma razão qualquer para o dia estar calmo. Tanto quanto um homem idoso ouvir resignado a mulher falar de cuspo enquanto come, sem esboçar um movimento reactivo ou soltar uma palavra de desacordo. Aliás, há sempre uma razão para qualquer coisa. E se não há uma razão, tem de haver uma razão para não haver. Talvez quando o peso dos anos e a resignação calejada, como naquele homem idoso à minha frente já não exigem razão nenhuma e tudo é aceite como uma componente fatalista da vida que não precisa de razões para ser acomodada pelos resignados, tal qual ela é.
De volta ao escritório dei uma volta pelos blogues, li apenas os habituais e regressei à rotina dos telefonemas e das pessoas a baterem-me à porta, a perguntar se me interrompem. Interrompem quase sempre, mas hoje, como disse, tudo está mais calmo e julgo sentir uma vontade estranha e secreta de que me interrompam mais vezes. Porque há dias assim. Em que nos apetece ser interrompidos, em que precisamos de bulício, de movimento, de vida. E o dia hoje, estranhamente, está morto. Sem bulício, sem movimento e vida quase nenhuma.
8 Comments:
Pouca gente a circular?Dia calmo? É isso: EU entrei hoje de férias!! :) Mas não parei um minuto e achei que, nesta minha "terra" já todos são reformados ou desempregados porque tudo o que era gentinha andava circulando.
Bom trabalho que eu fico no lado contrário.
Beijos
Gota
Ai ai...por aqui como anda tudo atarefado....
bjs
Dia sem bulício??? Só se foi para ti, fartei-me de mourejar, interromperam-me trocentas vezes e só consegui fazer o meu post agora! Aproveita a calma... há de haver uma razão. E depois, volta o bulício. beijinho
Endoidou!
Gota
Mas não tenhas dúvidas... qualquer dia há mais reformados que activos. E eu quero ver quem paga :)))
Goza bem as férias que eu... também não :)
Beijos
papoila saltitante
O meu post estava um "cadinho" em sentido figurado. É falta de assunto :))
Bjs
125_azul
Mourejas muito? E saíste de Moçambioque aos doze anos e não me disseste nada? Só disseste à Madalena e à IO? Estou a roer-me de ciúmes...
:)))
Beijinho
Anonymous
Endoidei, whoever you are...
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