Aprender com os outros...
[789]
Amanhã é o último dia de trabalho do senhor M aqui na Empresa. Durante 45 anos fez de tudo. Homem de poucas letras, foi sempre o segundo homem, o auxiliar, "o que ajuda" e cuja única esfera de poder era o equipamento de que cuidava e carinhosamente transportava a muitos senhores engenheiros que conheceu. A muitos deles terá até, quiçá, passado muita da sabedoria acumulada ao longo de anos de prática de manuseio de agroquímicos, com o sorriso que sempre o acompanhava e uma expressão que remetia para uma evidente bonomia e paciência em repetir, até à exaustão, muitas missões de trabalho no campo, em que nada mudava a não ser os senhores engenheiros que lhe passaram pelas mãos.
Num passado recente fixou-se como estafeta, que é uma designação idiota para as pessoas que tratam de mil coisas. No caso do senhor M, com eficácia, dedicação e boa vontade, ainda por cima. Porque desde o correio diário, às compras ligeiras, tarefas de recolha e regularização de documentos, de tudo ele tratava a sorrir.
Hoje juntámo-nos cerca de cinquenta pessoas à volta dele. Almoçámos e demos-lhe uma prenda. E ali estava ele, ao lado da mulher de sempre, dos senhores doutores e dos senhores engenheiros com a modéstia de sempre e uma lágrima irrequieta que acabou por lhe cair na cábula de umas quadras que ele preparou para nos ler e oferecer.
No fim do almoço regressei a pé ao escritório pensando como é que um homem trabalha cerca de quarenta e cinco anos em troco de um salário de subsistência, recebe uma prenda e um almoço dos colegas e vai para casa amanhar um pedaço de terra. De caminho, ainda consegue ser feliz…
Amanhã é o último dia de trabalho do senhor M aqui na Empresa. Durante 45 anos fez de tudo. Homem de poucas letras, foi sempre o segundo homem, o auxiliar, "o que ajuda" e cuja única esfera de poder era o equipamento de que cuidava e carinhosamente transportava a muitos senhores engenheiros que conheceu. A muitos deles terá até, quiçá, passado muita da sabedoria acumulada ao longo de anos de prática de manuseio de agroquímicos, com o sorriso que sempre o acompanhava e uma expressão que remetia para uma evidente bonomia e paciência em repetir, até à exaustão, muitas missões de trabalho no campo, em que nada mudava a não ser os senhores engenheiros que lhe passaram pelas mãos.
Num passado recente fixou-se como estafeta, que é uma designação idiota para as pessoas que tratam de mil coisas. No caso do senhor M, com eficácia, dedicação e boa vontade, ainda por cima. Porque desde o correio diário, às compras ligeiras, tarefas de recolha e regularização de documentos, de tudo ele tratava a sorrir.
Hoje juntámo-nos cerca de cinquenta pessoas à volta dele. Almoçámos e demos-lhe uma prenda. E ali estava ele, ao lado da mulher de sempre, dos senhores doutores e dos senhores engenheiros com a modéstia de sempre e uma lágrima irrequieta que acabou por lhe cair na cábula de umas quadras que ele preparou para nos ler e oferecer.
No fim do almoço regressei a pé ao escritório pensando como é que um homem trabalha cerca de quarenta e cinco anos em troco de um salário de subsistência, recebe uma prenda e um almoço dos colegas e vai para casa amanhar um pedaço de terra. De caminho, ainda consegue ser feliz…
8 Comments:
Há pessoas que aprenderam a ser felizes com o pouco que a vida lhes deu. São poucas. A maior parte vive insatisfeita com o muito que tem.
A costumeira beijola.
Estou certa de que o Senhor M continuará a ser feliz.
Beijinhos
Felizes aqueles que apreciam o que tem...pouco ou muito. Quem o não faz condena-se a eterno insatisfeito. Sorte a do Sr. M, que cabe na primeira categoria, que a maioria da população portuguesa não pode dizer o mesmo
Bjs
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Carlota
É... e isso causa alguma inveja. Tu por exemplo, que passas a vida a sonhar em ir aos supermercados belgas comprar queijos e enchidos, quando podias muito bem contentares-te com umas fritezitas manhosas :)))
Just kidding
E lá vão as tais beijolas.
Laura Lara
podes ter a certeza, Laura :)
Odala
A minha leitora mensal agora está a aparecer todas as semanas...
:)))Beijoca amiga para ti
O senhor M deve ser muito feliz, pois no fim da sua carreira (!) conseguiu juntar à sua volta cerca de cinquenta pessoas num almoço de convívio.
Sou do tempo dos jantares de despedida aos que encetavam o caminho tortuoso da reforma, hoje caído em desuso dado o número avultado de jantares a que teríamos de comparecer.
No futuro, poucos se poderão gabar de juntar à sua volta tanta gente, a não ser que sejam importantes figurões da política, dos negócios ou do espectáculo.
Talvez por isso, o sr. M ainda esteja feliz.
Enviar um comentário
<< Home